São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996
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Acidente de avião agora virou caso de polícia

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

O Ministério da Saúde adverte: se você, como eu, é do tipo que prefere fazer tratamento de canal do que andar de avião, pare imediatamente de ler esta coluna.
Bem, já que você ignorou o aviso, aperte o cinto: no último sábado, um jato McDonnell Douglas 88 da Delta Airlines, com 142 passageiros a bordo, se preparava para decolar da pista do aeroporto de Pensacola, na Flórida, quando uma das turbinas explodiu misteriosamente causando a morte de duas pessoas e ferindo 30.
Note que a turbina do MD-88 fica na parte traseira da aeronave e que os estilhaços da explosão chegaram a invadir a cabine do piloto. A diretoria de comunicação da Delta divulgou nota informando apenas que "aparentemente houve falha grave no motor".
Pane, digo, pano rápido. Há algumas semanas a "Business Week" publicou uma reportagem assustadora sobre o mercado de peças de avião falsificadas. Segundo a revista, trata-se de um negócio que chega a ser mais lucrativo até do que o tráfico de drogas.
A revista apurou que, em julho de 1995, um acidente parecido com o de sábado ocorreu em Atlanta. Momentos antes da decolagem, um DC-9 da Valujet (a mesma do jato que caiu no pântano da Flórida em maio matando todos os ocupantes) se preparava para decolar quando uma das turbinas explodiu sem mais.
Peritos apontaram um disco compressor rachado e corroído como causa do acidente. A peça, falsificada, fora instalada no motor meses antes, durante uma reforma pela qual o DC-9 havia passado em um centro de manutenção na Turquia -que não é reconhecido pelo FAA, a Administração Federal da Aviação dos EUA.
Mais: em dezembro de 1995, depois que um avião da American Airlines caiu em Cali, na Colômbia, bandidos foram flagrados pilhando peças que sobraram para revendê-las no mercado negro.
Peças falsificadas, segundo a revista, não podem ser identificadas a olho nu. E é na África e na América do Sul que "empresas aéreas (...) consciente e abertamente instalam peças falsificadas" por falta de fiscalização. Coloco a mão no fogo por empresas grandes, como a Varig e a Vasp, que sofrem, sim, fiscalização rigorosa.
Mas e outras tantas companhias do continente? Você confia?

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