São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996
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BC já estuda quarentena para dólares

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central voltou a dar sinais de que poderá restringir o ingresso de capital estrangeiro. Devido à preocupação com o gasto para adquirir os dólares que entram no país, no BC já se fala mais abertamente da saída "à chilena".
No Chile, foi criada uma quarentena sobre os recursos dos investimentos externos. Eles são recolhidos pelo governo por um certo período, o que desestimula as aplicações de curto prazo.
Segundo a Folha apurou junto a analistas do mercado, o BC já pediu opiniões sobre essa medida.
A hipótese imaginada pelo BC seria a criação de um recolhimento compulsório sobre parte do investimento externo. A alíquota e o prazo do compulsório variariam de acordo com o investimento.
Ficariam preservados os investimentos diretos, como são chamados os ingressos de recursos destinados, em tese, ao setor produtivo.
Ontem, o chefe do Depin (Departamento de Operações com as Reservas Internacionais do BC), Joubert Furtado, disse desconhecer estudos no sentido de restringir a entrada de dólares.
Mas citou a quarentena como uma das alternativas ao alcance do BC para bloquear o fluxo do capital externo ao país.
Até então, essa possibilidade era descartada oficialmente pelo BC, embora fosse discutida nas reuniões internas.
Contra o fluxo
Outras opções, segundo Furtado, seriam elevar a tributação sobre os investimentos estrangeiros e estimular os investimentos de brasileiros no exterior.
A acumulação de reservas em dólar, embora indispensável para o sucesso do Real, está saindo muito cara para os cofres públicos.
Sempre que o BC compra dólares, precisa vender títulos para tirar de circulação os reais emitidos na operação. Assim, a dívida interna dispara. Neste ano, já ingressaram US$ 14,541 bilhões no país.
Os títulos da dívida interna pagam juros superiores a 25% anuais. As reservas cambiais, aplicadas no exterior, não chegam a render 10% ao ano. Essa diferença pode custar R$ 3,5 bilhões neste ano, segundo se calcula no BC.
No mercado, os valores calculados são bem mais altos -chegam a R$ 9 bilhões anuais, para reservas de US$ 60 bilhões.
A conta é simples: aplicadas a 10% ao ano, as reservas renderiam US$ 6 bilhões. Mas R$ 60 bilhões em títulos do governo custam R$ 15 bilhões em juros anuais de 25%.
O fato é que a política de acumulação de reservas responde pela maior parte dos prejuízos do BC desde o lançamento do Real, incorporados ao déficit público.
O BC também não pode deixar de comprar os dólares. Se isso fosse feito, haveria dólares em excesso e as cotações despencariam, prejudicando as exportações.
As reservas hoje são de US$ 62 bilhões, o que é considerado pelo governo mais que suficiente para dar segurança ao Plano Real.

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