São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996
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EXAGERO REAL

Freud explica?
A propaganda dos dois anos do Plano Real comete erros graves quando trata dos indicadores de aumento de consumo de nove produtos desde o início da estabilização.
A Denison Rio Comunicação e Marketing Ltda., empresa responsável pela campanha, divulgou uma nota explicativa reconhecendo que o consumo de feijão aumentou 1,4%, não 87%; que o consumo de carne cresceu 4,5%, não 96%; que os brasileiros comeram 16,9% a mais de frango, não os propalados 80%; ou ainda que o aumento de consumo de ovos foi de 16,4%, não de 82%.
Segundo a Abia (Associação Brasileira da Indústria da Alimentação), o consumo de alimentos em geral teve crescimento de 12% nos dois anos de existência do Plano Real. Inferior também aos 30% citados na referida campanha do governo.
Não se trata, como é óbvio, de negar as extraordinárias vantagens da estabilização e os ganhos indiscutíveis que milhões de brasileiros -principalmente os mais pobres- tiveram com o sucesso do real.
Um sucesso tão real que dispensaria o governo de exagerar -e muito- nos números que levou a empresa a divulgar. Afinal, os setores beneficiados pelo acesso a bens de consumo antes inalcançáveis sabem perfeitamente que estão comendo mais frango ou mais ovos. A rigor, nem sequer seria necessário que o governo lhes dissesse isso.
Mas fazê-lo -e com tanto exagero- só dá margem a que a sociedade suspeite que outras informações estejam sendo veiculadas sem o devido rigor na sua checagem, devido à alegada "falta de tempo". O erro é ainda mais deplorável considerando-se que o contrato com a empresa foi assinado pelo Banco Central, supostamente um dos órgãos governamentais que mais acesso tem a informações econômicas e que, pelo menos em tese, mais cuidado deveria ter no seu tratamento.
O episódio é didático: quando o governo exagera na sua propaganda acaba provocando dúvidas até em um terreno, o dos benefícios da estabilização, que nem sequer a oposição ousa contestar.

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