São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996
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Exportação e crescimento

ANTONIO DELFIM NETTO

Sempre os economistas consideraram as exportações como o motor do processo de desenvolvimento. Na América Latina, temia-se que as exportações fossem inelásticas, isto é, que era difícil mantê-las crescendo a um ritmo acelerado mesmo com uma política cambial adequada.
Haveria uma queda secular das relações de troca e os países desenvolvidos protegiam o seu mercado interno. Foi isso que levou às políticas de substituição de importações.
Além disso -e esse era um aspecto importante no caso brasileiro-, a preocupação com a integração nacional sugeria o uso do mercado interno e a utilização de alguns preços "errados", como por exemplo o mesmo preço do aço e do combustível em todo o território nacional.
Esses mecanismos e outros que tentavam eliminar a distância como fator locacional, bem como alguns subsídios, acabavam aumentando os preços dos bens não-transacionáveis com relação aos transacionáveis, valorizando a taxa real de câmbio e criando um viés antiexportador.
Vista hoje com alguma distância e com maior objetividade, essa política, com todos os seus erros, problemas e dificuldades, era apenas expressão da contradição existente entre a alocação eficiente no curto prazo e a tentativa de construção de uma alocação eficiente no longo prazo com o aproveitamento das economias internas e externas derivadas da ampliação do mercado interno.
O que parece singular neste momento é a total ignorância do fato de que a "globalização" (o uso pleno do mercado) e a "integração" (o uso de preços "errados" para integrar e ampliar o mercado interno) se repelem.
A esperança é que a "globalização" leve a uma uniformização ou à convergência do nível de renda dentro de cada país e entre os países, o que parece pelo menos duvidoso.
A lentidão dessa convergência pode ser apreciada nos países que há séculos são autênticos mercados comuns (com a mesma moeda, inexistência de tarifas alfandegárias ou restrição de balanço de pagamentos entre Estados, com a mesma política monetária e fiscal etc.), como são, por exemplo, os EUA e o próprio Brasil.
Que as exportações são o motor do desenvolvimento é hoje fato pacífico. Um interessantíssimo trabalho de dois economistas da Universidad Torcuato Di Tella, de Buenos Aires (Ahumada, H.Sanguinetti, P. - "The Export-Led Growth Hipothesis Revisited", julio 1995), aplica a técnica de causalidade de Granger numa amostra de 27 países (Brasil incluído) no período 1971-1991 para testar novamente aquela hipótese.
Os resultados são absolutamente robustos: as exportações são mesmo o motor do desenvolvimento. Um subproduto dessa pesquisa é que ela conclui, também, que o crescimento passado explica mais o investimento presente (e a poupança) do que o investimento presente explica o crescimento futuro, como aliás intuíram Marx, Keynes e Schumpeter.

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