São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 1996
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A dívida e a ignorância

BRUNO FÉDER

O vereador Odilon Guedes usa má-fé no artigo publicado neste espaço (5/7) sobre a dívida da Prefeitura de São Paulo, quando tripudia sobre a inteligência dos leitores da Folha: "Se o próximo prefeito precisar pagar a dívida, São Paulo teria que ficar parada, sem qualquer serviço público, durante 12 meses", diz ele.
Partindo dessa hipótese bizarra, vamos especular um pouco mais pela trilha do absurdo. Vamos imaginar que o próximo prefeito de fato decida pagar de uma só vez a dívida do município, que é de R$ 4,2 bilhões. Ora, mas se o prefeito vai pagar essa dívida, por que nesse mesmo imaginário e fatídico dia o governador do Estado de São Paulo também não resolve zerar seus débitos?
E como todo mundo, de um dia para outro, resolveu pagar tudo o que deve, o governo federal não ficaria para trás, resgatando no ato os R$ 150 bilhões de seus títulos apenas da dívida interna. Na Europa, o governo italiano, cuja dívida supera o próprio PIB do país, não iria querer ficar humilhado diante de um bom exemplo como esse, no que seria naturalmente seguido por todos os demais governos do mundo, em especial o norte-americano, que deve a bagatela não de bilhões, mas de alguns trilhões de dólares.
Nesse dia, os bancos e o sistema financeiro mundial ficariam abarrotados de papel, já que ninguém iria querer dinheiro emprestado. A síndrome do "pagamento total" arrastaria o mundo a uma debacle bem pior do que o igualmente impossível "calote geral".
Agora, saindo do terreno das elucubrações do vereador Odilon Guedes, vamos tratar o leitor da Folha com o respeito que merece.
Em primeiro lugar, o prefeito Paulo Maluf não está deixando R$ 4 bilhões para seu sucessor pagar, com média de "desembolso" de R$ 1 bilhão por ano. Está deixando, sim, um superávit de R$ 1 bilhão por ano, que é a diferença para mais entre o que a prefeitura arrecada e o que gasta em custeio.
A atual gestão recebeu a prefeitura, em 92, com déficit corrente de R$ 431 milhões, que era a diferença para menos entre o que a prefeitura arrecadava e o que gastava, além de R$ 1,2 bilhão de dívidas com o governo federal e não quitadas, que tiveram de ser renegociadas e desde então pagas rigorosamente em dia. Em outras palavras, a prefeitura arrecadava pouco e gastava muito. Com austeridade, a gestão Maluf reverteu o déficit de quase R$ 500 mil para superávit de R$ 1 bilhão. É por isso que hoje a prefeitura pode rolar a dívida (autorizada pela emenda constitucional nº 3) e pode federalizar seus títulos, trocando-os por títulos federais, de prazos maiores e juros menores. Resumindo, Maluf está deixando dívidas equacionadas, lastreadas na saúde financeira do município. Está deixando também obras que revitalizaram a cidade e geraram empregos, com contas aprovadas por unanimidade pelo Tribunal de Contas do Município.

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