São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996
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Indústria produz carro difícil de vender

ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria automobilística está produzindo e entregando para a rede de concessionárias carros "difíceis de vender".
"Existem produtos antigos, cansados, e também carros novos, que não são aceitos na faixa de preço em que são oferecidos", diz Sérgio Reze, presidente da Fenabrave, entidade que reúne os concessionários de veículos. "O mix de produtos das montadoras está distorcido. Há muito carro de valor alto."
É o que explica, segundo Reze, a queda nas vendas e a elevação dos estoques. Para desencalhar esses carros, o revendedor precisa dar descontos que, em média, ficam entre 5% e 7%. Com isso, a margem de lucro é eliminada e as empresas entram no vermelho.
André Beer, vice-presidente da GM, diz que a montadora não pode ser incluída nessa avaliação. "Nossas vendas no varejo cresceram 29,4% no semestre. Não há desconto na venda de carros como Corsa e Vectra."
Reze não quis dar o nome dos modelos "difíceis de vender". Mas revendedores colocam nessa lista o Logus e o Pointer, da Volkswagen, o Verona e o Versailles, da Ford, e o Tipo, da Fiat.
Modelos mais antigos, como Santana (Volks), Monza e Kadett (GM), só conseguem deixar o estoque à base de grandes descontos.
Até o Palio, carro mundial da Fiat, e versões com motor mais potente do Gol estão abaixo da tabela.
Venda forçada
A manutenção desses veículos em estoque é, na avaliação de Reze, o maior problema das revendas. "Somos forçados a receber esses carros e a ter prejuízo", diz o presidente da Fenabrave.
Reze dá um exemplo: "Se a Volks decidir entregar em minha concessionária, por exemplo, cinco carros Santana brancos no mesmo dia, vou ter de receber."
Ele diz que o mesmo acontece nas demais redes. "Falta uma parceria leal e efetiva entre distribuidores e montadoras."
Os concessionários tinham estocados em junho 86 mil veículos (alta de 1,42% em relação a maio), suficientes para 20 dias de vendas.
"É insensibilidade da indústria dizer que esses estoques são normais", diz Reze, referindo-se a uma afirmação feita pelo presidente da Anfavea, Silvano Valentino. "Um estoque para sete dias é o máximo que podemos aguentar."
O presidente da Fenabrave também critica a meta das montadoras de aumentar em 10,8% a produção este ano. "Não vejo nenhum boom da economia que justifique esse aumento de produção."
Reze diz que o mercado não vai suportar esse volume de veículos. As vendas de carros no varejo, prevê, devem se manter no mesmo nível do ano passado.
Em queda
As vendas de veículos no varejo caíram 2,97% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 95.
Este ano foram vendidas 909.269 unidades, incluindo automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, máquinas agrícolas e motos.
A venda de automóveis caiu 5,84% no período. As motos recuperaram terreno: alta de 29,91%, com 120.364 unidades negociadas.
No mês passado foram vendidos 150.145 veículos, queda de 13,16% em relação a maio e 3,96% na comparação com junho de 95.

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