São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996
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Hospital da USP: modelo

FLÁVIO FAVA DE MORAES

O Ministério da Saúde acaba de divulgar os resultados da auditoria que realizou no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP). Ao final de um trabalho minucioso de investigação, a comissão multiprofissional indicada pelo ministério emitiu a seguinte recomendação:
"Tendo em vista a magnitude, eficiência no atendimento e procedimentos, como também o papel que desempenha na comunidade, sugerimos que o Hospital Universitário da Universidade de São Paulo sirva como parâmetro tanto para os demais hospitais universitários como também para os hospitais particulares, públicos e filantrópicos."
Assim, o padrão de excelência do HU, que sempre recebeu um orgulhoso reconhecimento da comunidade uspiana, ganha agora uma importante chancela externa das autoridades máximas do setor de saúde brasileiro.
É relevante destacar que, no momento da instalação da auditoria, em 1994, a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo havia proibido esse tipo de avaliação nos hospitais sob seu controle. Mas a reitoria da USP e a superintendência do HU decidiram, naquela ocasião, não só permitir a auditoria como, principalmente, considerá-la um instrumento de avaliação indispensável e inadiável.
Nada escapou ao olho clínico ministerial. Dos recursos humanos às instalações físico-funcionais do HU, dos documentos orçamentário-financeiros à qualidade do atendimento, dos serviços auxiliares às áreas administrativas, considerando ainda o seu perfil de atuação nas áreas de assistência, ensino e pesquisa.
A comissão destaca o papel de multiplicador de conhecimentos que o hospital desempenha junto aos estudantes e às diversas áreas acadêmicas que o frequentam.
"A simplicidade de estrutura hierárquica entendemos ser o ponto de apoio que permite que uma grande e complexa estrutura como essa mantenha-se em ordem e eficiente."
São essas características especiais, aliás, que permitem que o hospital da USP assuma o papel de importante vínculo comunitário.
De fato, desde que implantou, em 1988, o seu projeto assistencial às comunidades residentes no bairro paulistano do Butantã, onde está sediado, o HU tem oferecido gratuitamente atendimento médico-hospitalar de elevado padrão em variadas especialidades a cerca de 600 mil pessoas, que se somam aos mais de 150 mil pacientes internos da sua população de alunos, funcionários, professores e seus dependentes.
Essa grande massa exige o trabalho de 1.800 funcionários, incluindo 270 médicos, 184 enfermeiros e 371 auxiliares de enfermagem, além das áreas de apoio como o Serviço de Nutrição e Dietética, que fornece 1.700 refeições por dia e prepara 3.700 quilos de carne por mês.
O fato é obviamente relevante pelos seus próprios resultados, mas também porque desmente opiniões medíocres, rancorosas e preconceituosas de que as instituições públicas de ensino superior -"custeadas pelo povo"- estão alheias aos interesses da população.
No caso da USP, os benefícios à saúde comunitária são visíveis de forma bastante ampla em diversas outras unidades, como, por exemplo, no Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Labiopalatais de Bauru, nas suas três faculdades de odontologia, nos laboratórios de análises clínicas das duas faculdades de farmácia, nas duas escolas de enfermagem e na Faculdade de Saúde Pública, destacando-se ainda a assistência didático-científica prestada ao Hospital das Clínicas da capital e ao de Ribeirão Preto.
Com o projeto do HU, pela primeira vez uma universidade, sem fugir às suas responsabilidades básicas de ensino e pesquisa, definiu um projeto para a comunidade, sobrepondo-se à vala comum dos hospitais simplesmente prestadores de serviços.
É importante destacar que o HU é um órgão da USP, não sendo parte, portanto, da rede estadual de saúde. Mesmo assim, oferece atendimento assistencial de alto nível a parcela ponderável da população paulistana, não recebendo por isso subvenção do SUS, mas unicamente pagamento pelos serviços prestados, cujo valor, defasado no tempo e no montante, cobre apenas 14% das necessidades de custeio do programa.
Assim, 86% dos dispêndios são cobertos com recursos da própria USP, ou seja, com parte do mesmo percentual de ICMS a ela destinado pelo governo do Estado de São Paulo, que, dessa forma, retorna com competência à comunidade que o pagou e como resposta aos que tentam denegrir injusta ou interessadamente a imagem da instituição.

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