São Paulo, domingo, 14 de julho de 1996
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Índia terena entra na Justiça contra cacique

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma índia terena entrou na Justiça em Bauru (SP) contra um cacique txucarramãe pedindo que ele reconheça a paternidade de sua filha e pague pensão alimentícia.
Jupira conta que namorou Megaron, suposto pai da criança, por três meses. "A gente não deu certo, mas minha filha não pode pagar por isso", afirma Jupira. Ela diz que quer resgatar a "dignidade moral" de Suiyãne, 11.
Apesar de Jupira dizer que a menina é a "cara de Megaron", ele nega que seja o pai. O advogado do cacique, Fred Gonçalves, declarou que, segundo Megaron, a índia já apresentava "sinais de gravidez" quando eles se conheceram.
"É mentira. Ele quer fugir da responsabilidade", disse Jupira. Ela afirmou que esse argumento provavelmente veio do fato de ela ter inventado que era casada para afastar Megaron. "Ele não parava de andar atrás de mim depois de nossa separação."
Jupira disse que a resistência do cacique a assumir a menina vem da influência de outros índios.
"Proveito político"
"Eles têm medo de que eu tire proveito político do caso." Megaron é uma importante liderança txucarramãe no Mato Grosso.
Jupira, que estuda enfermagem, acusa o cacique de usar sua condição de índio. "Ele me disse que não poderia ser processado por causa disso." Segundo a Funai, o índio só pode ser responsabilizado por suas ações a partir do momento em que sofre aculturação.
"Ele não é mais primitivo. Tem documentos e exerce um cargo de confiança na Funai", disse Jupira.
Além de pedir um exame de DNA -que revela com precisão quem são os pais da criança-, o advogado de Megaron vai agora convocar as testemunhas de seu cliente.
O único problema, segundo ele, é a dificuldade de entrar em contato com elas. "Elas são indígenas e estão em lugares inacessíveis", disse Gonçalves.
O próprio Megaron, que está participando de uma caçada, não pôde ser encontrado para dar entrevistas.

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