São Paulo, domingo, 14 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC formaliza em Lisboa novo bloco

Brasil entra quarta em grupo unido pelo idioma

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O Brasil passa a fazer parte, na quarta-feira, de mais um bloco internacional, neste caso a CPLP, ou Comunidade de Países de Língua Portuguesa.
Os estatutos do bloco serão lançados quarta-feira, em Lisboa, em reunião de cúpula dos sete países que o integram (ver quadro).
Não chega a ser um bloco potente nem tem as ambições comerciais do Mercosul, por exemplo, em que o Brasil é sócio de Argentina, Paraguai e Uruguai.
Mas, "quanto mais o país pertencer a grupos como esses, melhor, em um mundo multipolar", resume o embaixador Carlos García, que cuidou, no Itamaraty, das negociações prévias.
É uma alusão ao fato de que, embora o mundo tenha ficado reduzido a uma única superpotência militar (os Estados Unidos), economicamente há uma diversidade de pólos importantes, da Europa ao Japão, passando pelo Mercosul.
E a diplomacia brasileira sempre trabalhou com a tese de que o país não pode vincular-se preferencialmente a qualquer deles, mas tratar de ser um "global trader" (literalmente, comerciante global).
É claro, de toda forma, que fica implícita nessa configuração a idéia de buscar apoios para a candidatura do Brasil a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, se e quando se fizer a reforma dessa organização internacional.
Hoje, os assentos permanentes são privativos das potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial (1939-45). São EUA, Rússia, China, França e Grã-Bretanha, uma configuração claramente superada pelo passar do tempo.
Um dos três principais objetivos da CPLP é exatamente o de buscar uma convergência nas posições internacionais de seus integrantes nos diferentes foros.
Contar com o voto de cinco países africanos de língua portuguesa é sempre um ativo importante para a diplomacia brasileira, por pobres e fracos que sejam.
Mas o objetivo central da CPLP é menos político e mais cultural.
"Uma ponte entre três continentes", define-a o chanceler brasileiro Luiz Felipe Lampreia, referindo-se ao fato de que seus membros estão espalhados pela África, Europa (Portugal) e América (Brasil).
A terceira língua
A defesa e promoção da língua portuguesa é o segundo dos objetivos centrais do novo conglomerado. Parte do pressuposto de que a língua portuguesa é a terceira mais falada no Ocidente, atrás apenas de inglês e espanhol. É também a sétima mais falada no mundo.
O terceiro objetivo é reforçar a cooperação entre seus membros, o que, no caso do Brasil, implica uma via de mão única: ajuda aos países africanos da CPLP.
A eles destinam-se os cinco projetos (ver quadro) que serão anunciados na cúpula de Lisboa (ou "cimeira", como preferem os portugueses).
À margem da cúpula propriamente dita, haverá encontros bilaterais do presidente brasileiro, o principal dos quais com o presidente angolano José Eduardo dos Santos.
Tema óbvio: o processo de paz em Angola.
O governo brasileiro não esconde a sua insatisfação com os escassos progressos registrados desde que o governo angolano assinou um acordo de paz com o grupo rival Unita (União Nacional pela Independência Total de Angola).
Cerca de 1.200 soldados brasileiros fazem parte do contingente internacional de paz, cuja presença acaba de ser prorrogada pelo menos até setembro.
A avaliação do governo do Brasil é que a presença das tropas ainda está sendo útil. Não há, portanto, urgência em repatriar os soldados.
Mas, se o processo continuar patinando, logo vai surgir essa urgência. A conversa FHC/dos Santos será uma chance de atualizar as informações a respeito.

Texto Anterior: Coquetel de drogas elimina vírus da Aids; Laudo não explica morte da namorada de PC; Câmara aprova fim do IPC para parlamentares; Estudo mostra 77% dos bebês com anemia
Próximo Texto: Os projetos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.