São Paulo, domingo, 14 de julho de 1996 |
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'Bocas-livres' dobram renda de modelos
MAURICIO STYCER
Em São Paulo, modelo não paga para almoçar e jantar em bons restaurantes, faz ginástica e tratamento de beleza de graça, não gasta um tostão para cortar o cabelo e, se quiser, pode estudar inglês sem precisar botar a mão no bolso. Restaurantes, casas noturnas, academias, clínicas de estética e cursos oferecem seus serviços de graça às modelos, sem receber nada em troca das agências. Aos restaurantes e academias de ginástica interessa ficar com a fama de que são frequentados por pessoas bonitas. Para as agências, é a chance de oferecer um benefício para as suas iniciantes, chamadas de "new faces" (caras novas). Os bares e restaurantes (como Mr. Fish, The Place, Helena, Tomatto, Cabral, Café Cancun e Coronel Mostarda, entre outros) oferecem, por exemplo, quatro refeições gratuitas por dia, de segunda a sexta, a quatro modelos que a agência indicar. Às vezes, elas pagam 10% da conta, ao garçom. "Para uma 'new face', recém-chegada do interior de São Paulo, esses benefícios podem representar até a metade do que ela faz nos primeiros meses", diz Marco Aurélio Carvalho, diretor de marketing da Elite, agência que mantém acordos com 13 restaurantes, 10 academias de ginástica e 2 escolas de inglês. Proposta indecente Segundo Carvalho, a agência é criteriosa ao selecionar os restaurantes com que faz acordos. "Outro dia, fui procurado pelo dono de um bar muito frequentado por homens de negócios na 'happy hour', nos finais de tarde. Achei suspeito e não aceitei", diz ele. Além de restaurantes, academias e cursos, a agência L'Equipe também mantém acordos com cabeleireiros. "Às vezes, é difícil para uma 'new face' emplacar logo no mercado. Por isso, esses benefícios têm um peso importante", diz Mara Toledo, que cuida das modelos iniciantes da L'Equipe. Apartamento A Ford Models também oferece gratuitamente, em algumas situações, vaga em um apartamento da agência, cujas despesas costumam ser divididas pelas modelos. "Dependendo da modelo, se a gente acredita no potencial, e ela não tem condições financeiras, é de graça", diz Cláudia Nasi, da Ford. Segundo Cláudia, a agência oferece a cortesia por até seis meses, "o suficiente para acontecer alguma coisa". Após esse prazo, se a carreira da modelo não deslanchar, ela perde a mordomia. Texto Anterior: Técnica arcaica lembra tortura Próximo Texto: Médico culpa paciente por abuso de exames hi-tech Índice |
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