São Paulo, domingo, 14 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Arriba, Brasil!

JUCA KFOURI

Romário no Valencia. Ronaldinho e Giovanni no Barcelona. Rivaldo no La Coruña. Quatro dos cinco maiores jogadores brasileiros da atualidade vão enfeitar o Campeonato Espanhol. E por quê?
Primeiro porque a Espanha tem apenas dois torneios: o campeonato nacional e a Copa do Rei. Lá não tem o campeonato basco, o catalão, o andaluz, o galego etc.
O futebol é jogado quase sempre só nos finais de semana, com casa cheia. E, embora a seleção espanhola não seja essas coisas, o campeonato cada vez mais está à altura do Italiano e do Alemão.
Aqui, se sabe, temos o Campeonato Brasileiro -que já vai começar sem as maiores atrações do Flamengo, do Santos e do Palmeiras-, a Copa do Brasil e os campeonatos Paulista, do Rio, Gaúcho, Mineiro etc.
Só para se ter uma idéia, Valência é uma cidade com cerca de 800 mil habitantes, enquanto a cidade do Rio de Janeiro tem quase 6 milhões. E como Údine, cuja população cabia no Maracanã, um dia levou Zico, Valência está levando Romário, o maior ídolo do clube mais popular do mundo.
O Produto Nacional Bruto espanhol é menor que o brasileiro (US$ 525 bilhões, contra US$ 536 bi), e a Espanha é a décima economia do mundo, enquanto o Brasil é a nona. Claro, o salário mínimo espanhol é cinco vezes maior.
Mas nenhuma comparação é possível entre a riqueza dos clubes espanhóis e a dos brasileiros. E por quê?
Porque a gestão dos clubes espanhóis é profissional e os cofres dos clubes têm preferência em relação aos bolsos dos dirigentes. Porque a TV espanhola não passa um jogo por dia, porque não há evasão de renda, porque o espetáculo do futebol é tratado como tal, porque os gramados são bons, porque a exploração das marcas dos clubes e da publicidade em seus estádios reverte para os próprios e assim por diante.
E não se diga que lá não existem dirigentes folclóricos e arbitrários, ou corruptos, como alguns dos nossos cartolas. Eles são apenas muito mais capazes. Nosso futebol teria todas as condições para fazer frente à investida dos espanhóis se tivesse, fora do campo, a qualidade que tem dentro e que eles precisam importar.
E tanto isso é verdade que, para tirar da Holanda o craque Ronaldo, a Espanha teve de pagar ao PSV quase o que pagou por Rivaldo, Romário e Giovanni juntos. E por quê?

Texto Anterior: África, alô!; Alemanha, adeus!; Clubes à deriva
Próximo Texto: Amistoso nos EUA define a seleção para a Olimpíada
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.