São Paulo, domingo, 14 de julho de 1996
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Dieta antienvelhecimento deve ter menos calorias, diz estudo

DA "NEW SCIENTIST"

Os cientistas sabem há décadas que ratos alimentados com o mínimo necessário para subsistir vivem cerca de 35% mais tempo do que o previsto para sua espécie. Agora, os pesquisadores estão procurando saber se um regime de quase fome também prolonga a vida dos resos -macacos que, biologicamente, estão entre os mais próximos do homem. Objetivo: saber como a alimentação pode ajudar a humanidade a viver mais, uma das linhas mais recentes da pesquisa sobre o envelhecimento.
Um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional do Envelhecimento de Maryland (EUA) está avaliando, há nove anos, o efeito de diferentes tipos de dietas a que estão sendo submetidos cerca de 200 esquilos e macacos.
George Roth, que lidera a equipe de pesquisadores americanos, anunciou seus primeiros resultados este ano. A temperatura média do corpo de macacos que comem 30% menos por vários meses cai cerca de 1°C. Segundo Roth, isso é um sinal de que a restrição de calorias detona uma mudança no processo pelo qual as células usam energia -pelo menos a curto prazo. Em resumo, isso quer dizer que a resposta do organismo dos macacos ao corte de calorias é equivalente à observada em ratos. Teoricamente, eles devem viver mais -dez anos mais, segundo Roth.
No entanto, os pesquisadores ainda vão ter de esperar por uma resposta conclusiva sobre o efeito das dietas minimalistas. Os macacos da espécie reso em geral vivem cerca de 35 anos no cativeiro.
Roth diz que, depois de divulgar seus primeiros resultados, recebeu um dilúvio de pedidos de "dietas da longevidade". Alguns cientistas já adotaram o regime. Roy Walford, biólogo da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA), passou a consumir, por conta própria, 1.800 calorias por dia (um adulto normal deveria consumir pelo menos 2.500 por dia).
Explicações
Roth e colegas querem agora descobrir os mecanismos moleculares que explicariam como a restrição de calorias pode aumentar a duração da vida.
O problema é que a pesquisa ainda está no estágio inicial, com muitas hipóteses e poucos resultados. Uma das teorias diz que as moléculas de açúcar -produto da quebra de alguns alimentos com muita caloria- prejudicam o funcionamento do organismo ao formar complexos com proteínas e outras moléculas vitais, impedindo-as de agir convenientemente (as proteínas são os "meios de comunicação" do corpo). Isso causaria o envelhecimento das células.
Cortar calorias -e consequentemente a taxa de absorção de açúcar pelas células- pode retardar esse processo. Mas Roth diz ainda que privar as células de açúcar faz mais do que tornar mais lento o metabolismo. Isso pode também intensificar as atividades de genes e enzimas que ajudam a proteger o DNA e proteínas dos danos provocados pelos radicais livres.
Os críticos dizem que se sabe pouco sobre os efeitos biológicos e psicológicos de uma permanente dieta de baixas calorias para que ela seja adotada com segurança. Os ratos e macacos pesquisados não dizem aos pesquisadores como se sentem -frio e fome, no entanto, podem ser uma boa aposta.
Os pesquisadores que fazem o caminho inverso ao de Roth -os que estudam o fenômeno a partir do seu lado microscópico- procuram saber o que faz as células pararem de se dividir e de "renovar" o organismo. Esses cientistas consideram que a resposta pode estar num pedaço dos cromossomos, chamado telômeros.

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