São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 1996 |
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Carvalho quer fazer instalação no Brasil
KATIA CANTON
Vivendo nos Estados Unidos desde 1964, Josely Carvalho poderia ser considerada uma legítima e bem-sucedida artista nova-iorquina. Para começar, ela é vencedora do "grant" individual para artistas de 1996 do National Endowment for the Arts, um dos prêmios de maior credibilidade do país e o último a ser entregue a um artista -o governo norte-americano suspendeu esse tipo de bolsa a partir de 1997. Com um trabalho baseado no que ela chama de "Diário de Imagens" -sua obra parte sempre de um registro pessoal para desembocar no comentário social-, a artista já passou pelos maiores museus e espaços culturais do país. Nesta entrevista, que aconteceu em sua casa, no bairro de Gramercy Park, ela comenta, ao lado do computador, suas novas incursões artísticas pelas "home pages" da Internet. * Folha - O que significa esse prêmio do National Endowment for the Arts? Josely Carvalho - É um prêmio consagrador para um artista. Em dinheiro, ganha-se US$ 20 mil, que devem ser utilizados num projeto determinado pelo artista durante um ano, no caso, até o final de 1996. Infelizmente, o governo norte-americano está cada vez mais engajado numa política de abandono às artes. Esse foi o último ano de existência do prêmio individual para artistas. Folha - Você trabalha basicamente com instalações, criando séries do que chama "Diário de imagens". Como escolheu essa mídia? Carvalho - Formei-me em arquitetura pela Washington University, o que me deu uma noção espacial e uma ligação com a arte pública. Trabalhei muitos anos com serigrafia e comecei a juntar fotografia, som, serigrafia e outros materiais para criar partes desse diário. Chamo-o assim porque se trata sempre de uma obra com base numa experiência de vida, seja real, emocional ou mítica. Folha - No momento você está com a exposição "Cerimônia do Espírito", viajando pelos EUA e pelo México. No Brasil, depois do Memorial Armênia, você vai realizar uma instalação sobre os sem-teto. Como será? Carvalho - O título da exposição é "Sem Teto", mas está justamente em contraponto com a construção física da obra, baseada nos mutirões. Quando estava em Morro de São Paulo, Bahia, percebi o jeito como as telhas de barro eram empilhadas para fazerem parte do mutirão. As telhas, que são belíssimas na forma, têm que ser empilhadas de um jeito que não quebrem, para que sejam facilmente passadas de mão-a-mão na hora da construção da casa. Comecei a observar esse tipo de prática em vários locais do Brasil e daí surgiu a idéia da instalação. Folha - Quando e onde ela será realizada? Carvalho - Provavelmente no início de 1997, no MIS e no MuBe. Ainda estou acertando o patrocínio. Folha - A Adaweb da Internet tem atraído muitas artistas norte-americanas, como Jenny Holzer, Margot Lovejoy, as Guerilla Girls, na confecção de home pages, muitas lidando com assuntos ligados às mulheres. Você se interessou? Carvalho - Já estou trabalhando na confecção de uma página. É interessante notar como a Internet tem se tornado um palco efervescente para a obra de artistas, inclusive muitas mulheres. Cada um trabalha de um jeito. Jenny Holzer, que utiliza palavras, faz uma série de "Truísmos" interativos -as pessoas são convidadas a mexer em suas frases. Margot Lovejoy criou imagens sobre a violência física contra a mulher. Eu pretendo fazer algo sobre o "Sem Teto" e as telhas brasileiras. Vejo a Internet em direta conexão com a arte pública: elas são para todos. Texto Anterior: Os desfiles do dia Próximo Texto: Começam as filmagens de "Guerra de Canudos" Índice |
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