São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 1996
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A balança preocupa

CELSO PINTO

O déficit de US$ 327 milhões na balança comercial de junho, anunciado ontem, não preocupa apenas por ser um péssimo resultado. Ele reforça uma tendência clara de deterioração nas contas da balança.
Se forem considerados fatores sazonais, o déficit de junho, corrigido, sobe a US$ 626 milhões. Ou seja, para um mês tradicionalmente bom nas contas da balança, o impacto real do déficit é muito maior.
Com um resultado tão ruim, as projeções ficaram ainda piores. Os resultados do segundo trimestre projetados para 12 meses (descontados os fatores sazonais) indicam um déficit de US$ 5,6 bilhões, nas contas de um grande banco internacional.
O resultado do primeiro semestre, dessazonalizado e projetado para o resto do ano, aponta para um déficit de US$ 2,7 bilhões. O resultado real pode ser pior, já que a tendência, a cada mês, tem sido de deterioração.
Quanto mais se esmiuçam as contas, mais complicado fica o cenário.
Do lado das importações, o governo diz que um bom sinal é que as importações no primeiro semestre caíram 9,7% em relação ao primeiro semestre do ano passado. Isso é verdade, mas esconde uma tendência de piora.
Olhando a média diária de importações, o que elimina a oscilação de dias úteis em cada mês, houve um aumento contínuo, desde janeiro (US$ 163 milhões) até junho (US$ 219 milhões). O salto é de 34%, num período em que a economia mal começou a retomar o crescimento.
Além disso, a queda nas importações foi provocada, principalmente, pela enorme redução na importação de automóveis (superaquecida em 95 e superdesaquecida no início de 96). Excluindo os automóveis, a queda das importações no primeiro semestre foi de apenas 3%.
Olhando cada grupo de importação e comparando médias diárias, o setor com maior queda (menos 26%) foi o de bens de capital (excluídos automóveis). É explicável, porque a economia crescia a 10% ao ano no início de 95 e estava estagnada no início deste ano. A tendência, contudo, é de aumento: a média diária de janeiro foi de US$ 38 milhões e a de junho, de US$ 60 milhões.
O segundo grupo que mais caiu foi o de bens de consumo (queda de 5,8%), excluídos automóveis. A tendência também é de alta: a média diária passou de US$ 24 milhões em janeiro para US$ 32 milhões em junho. Algo coerente com a contínua aceleração da economia.
Finalmente, no caso de bens intermediários (matérias-primas), houve um aumento de 21% na média diária das importações do primeiro semestre, também com tendência de aceleração. O que pode indicar que há, nesse setor, um forte processo de substituição de produção interna por produto importado.
Todo o quadro de importações indica aceleração. Como a economia tende a crescer mais no segundo semestre, o patamar das importações também deverá subir.
Do lado das exportações tampouco há muitas razões para otimismo. Em valor, as exportações cresceram, no semestre, 6,8%. É um ritmo idêntico ao do ano passado. Mais uma vez, o salto de alguns preços, como o da soja, ajudou muito. O farelo de soja rendeu 42% mais em valor com apenas 5% a mais de embarques. As exportações de fumo subiram 42% em valor e 24% em volume.
Esses dois produtos, mais os produtos metalúrgicos e químicos, explicam virtualmente todos os ganhos das exportações neste ano. No caso dos metalúrgicos e químicos, houve uma ajuda estatística: no início do ano passado, dado o superaquecimento interno, as exportações foram muito baixas.
A tendência para julho, por enquanto, é de equilíbrio ou algum déficit. Ainda não há sinais de salto nas exportações, compensando atrasos em junho. Se isso acontecer, pode melhorar o resultado de julho, mas não o suficiente para compensar os déficits esperados para o último trimestre. Junho a agosto é o período mais favorável para a balança e deveria estar registrando fortes superávits.
Olhando para os próximos 12 meses, as previsões já começam a subir para um déficit entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões. Não é o fim do mundo, mas complica as contas externas, especialmente se a esse resultado corresponder um crescimento da economia de apenas 3%.

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