São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 1996
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Lesa-bola

JUCA KFOURI

Fernando Redondo joga na seleção do mundo, mas não joga na seleção argentina. Ou melhor, não joga na seleção de Daniel Passarella, porque da Argentina não é uma seleção que não tem Fernando Redondo.
Diego Maradona também não joga na seleção de Passarella, prova provada que a seleção é do técnico, não do país.
Os treinadores são mesmo uma espécie à parte do gênero humano. Para ficar só num exemplo razoavelmente recente, e no Brasil, Cláudio Coutinho não levou Paulo Roberto Falcão para disputar a Copa do Mundo de 1978, na Argentina. O genial catarinense já estava às portas de completar 25 anos, tinha sido cinco vezes campeão gaúcho e duas vezes campeão brasileiro -a terceira ele seria no ano seguinte à Copa. Mais cinco anos e o então craque do Internacional de Porto Alegre era coroado Rei de Roma, ao levar o time que tem o nome da capital italiana ao título nacional de 1983, coisa que não acontecia havia 41 anos.
Com Redondo o crime contra o futebol se repete, como se repete com Maradona, com Romário..., ou como se repetiu também em 1990, quando Sebastião Lazaroni deixou Neto, no auge da forma, fora da Copa da Itália. Não será demais lembrar que, em seguida, Neto conduziu praticamente sozinho o Corinthians ao seu único título de campeão brasileiro.
Para não ir muito longe, Arrigo Sacchi não convocou Roberto Baggio para a recente Eurocopa.
Passarella não ganhou nada até hoje diante da seleção que dirige, como Coutinho não ganhou em 1978, Lazaroni em 1990 e Sacchi agora.
E os técnicos continuam os senhores absolutos das convocações e das escalações.
Democratismos à parte, não chegaremos ao extremo de propor consultas populares para convocar e escalar as seleções nacionais. O ridículo tem limites.
Mas que é muito poder nas mãos de um homem está fora de dúvida. Melhor para todos se as seleções fossem comandadas por um colegiado de especialistas, composto por técnicos, preparadores físicos, psicólogos, treinadores de goleiros etc.
Se duas cabeças pensam melhor que uma, cinco pensam melhor que duas e teriam o mérito de aliviar o tamanho da responsabilidade sobre os ombros de um homem só.
E talvez fizessem de Ronaldinho titular absoluto da seleção olímpica...

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