São Paulo, terça-feira, 16 de julho de 1996
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NO LUGAR DA INFLAÇÃO

A inflação incomodava, e muito. O déficit comercial incomoda mais? Esta é a pergunta à qual os mercados talvez procurem responder, agora que a balança brasileira exibe novamente um déficit significativo.
Depois da crise mexicana, déficits comerciais incomodam. O Brasil venceu até agora a inflação usando armas como a taxa de câmbio valorizada e a abertura comercial. A economia mais aberta e a moeda mais forte permitiram o aumento da oferta de produtos importados no mercado, o que permite absorver pressões inflacionárias ou impedir repasses (reais ou abusivos) de aumentos de custos.
Pode-se considerar a abertura comercial e a taxa de câmbio como elementos relativamente estáveis, como características em boa medida irreversíveis no curto prazo. Nesse contexto, o nível de importações depende sobretudo da taxa de crescimento.
Em 95, quando o déficit comercial era alto (face aos temores pós-México), o governo não fechou a economia nem desvalorizou o câmbio: apenas puxou com toda força o freio.
Agora, depois de alguns meses em que aos poucos houve um relaxamento de restrições ao crédito e quando se percebe uma lenta reversão da tendência ao desaquecimento, as importações sobem com vigor.
A partir de agora basicamente dois cenários são possíveis. Na lógica do "stop and go", o governo pode repetir a dose, puxar novamente o freio e conter as importações. Numa lógica mais política, de ano eleitoral que não comporta freadas bruscas, o governo correria o risco de deixar a economia crescer, absorvendo as importações (e o déficit comercial) novamente crescentes, permitindo-se o luxo de queimar reservas.
Terá sido esse o motivo oculto de forçar a economia a absorver reservas em níveis claramente exagerados? No lugar da taxa de inflação, o governo trabalharia com metas de acumulação e perda de reservas internacionais. Resta saber se os mercados internacionais são tão condescendentes com essa variável como foram os brasileiros com planos e taxas de inflação.

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