São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 1996
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Imposição pode levar crise ao PT

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A exigência da direção estadual do PT que Luiza Erundina ceda parte de seu espaço na TV para a divulgação de candidaturas da região do ABCD poderá criar o primeiro grande foco de crise na campanha petista de São Paulo.
Erundina não foi sequer consultada sobre a decisão. Anteontem à noite, ao ser indagada sobre a medida, mostrou-se surpresa e disse desconhecer a determinação. Mas evitou criticá-la. Já a equipe de TV da candidata ficou contrariada.
O comando da campanha de Erundina também discorda da decisão. Para Jilmar Tatto e Pedro Dallari, houve apenas consulta informal da direção do PT sobre o "enfoque eventual" de temas metropolitanos no programa de TV.
Mesmo assim, segundo eles, nada ficou decidido. Os dois se mostraram surpresos ao ver nos jornais de ontem a informação sobre a utilização do horário de Erundina. "Fragmentar o programa é temerário", diz Dallari.
"Nós não vamos ceder", afirma Tatto, que coordena a campanha e dirige o PT paulistano. "Se o PT estadual tentar impor isso, nós não vamos aceitar." Para ele, o máximo que será permitido é a presença de outros candidatos petistas no debate de temas metropolitanos.
Para Tatto, a coligação de Erundina também inviabiliza a cessão de horários para o ABCD. O PSB, por exemplo, que integra a aliança na capital, é o partido de Gilson Menezes, principal adversário do PT no município de Diadema. "Como viabilizar isso?", indaga.
Risco de fracasso
Mas a maior reação à decisão partiu da equipe responsável pelo programa de Erundina na TV. Se o retalhamento se concretizar, segundo ela, há risco de inviabilização da proposta que a equipe planejou para tentar eleger Erundina.
A equipe de TV já acha muito pouco os 8min06 que Erundina terá em dois horários distintos na TV, em três dias da semana. Se ceder espaço para a região do ABCD, berço do PT, sobrará ainda menos tempo para a candidata.
Os responsáveis pela comunicação de Erundina preparam um programa no qual o principal objetivo é mostrar que o PT amadureceu, que não é o partido radical de antes. Acham ser esse o principal motivo da rejeição à candidata.
Segundo integrantes da equipe de comunicação da petista, pesquisas internas apontam que a maioria da população de São Paulo aprova a gestão anterior de Erundina na prefeitura (89-92).
Para eles, a imagem negativa do PT agrava a rejeição. Com o objetivo de mudar esse quadro, eles pretendem fazer um programa de TV voltado para mostrar as administrações petistas, entre elas a de Erundina.
Como exemplo de administrações do PT, vão mostrar na TV que saíram de prefeituras petistas 17 dos 40 projetos brasileiros escolhidos pela ONU para mostrar no recente congresso sobre problemas urbanos, em Istambul (Turquia).
O programa de Erundina vai querer explorar o que o PT chama de "o jeito petista de governar". Os comunicadores do PT temem o fracasso desse projeto, caso o programa de TV da candidata seja retalhado com candidatos do ABCD.
A direção do PT foi procurada pela Folha, mas não respondeu até o fechamento desta edição.

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