São Paulo, sexta-feira, 19 de julho de 1996
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Delegado indicia quatro sem-terra

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM (PA)

O presidente do IPC (Inquérito Policial Civil) sobre o massacre dos sem-terra em Eldorado do Carajás (PA), delegado Vicente de Paulo Costa, indiciou quatro sem-terra que participaram do conflito com a Polícia Militar.
Os sem-terra Grenon Ferraz Maia, Maurílio da Silva Soares, Júlio César Barbosa da Silva e L.W.P.S, 17, foram indiciados sob a acusação de porte ilegal de arma, desobediência e resistência à ordem policial e lesões corporais.
Além do inquérito civil, o conflito foi investigado em IPM (Inquérito Policial Militar), no qual foram denunciados 155 PMs, acusados pelo Ministério Público de homicídio doloso (intencional) e lesões corporais.
O confronto entre PMs e sem-terra ocorreu em 17 de abril e resultou em 19 sem-terra mortos.
Apesar de o IPC conter 135 depoimentos, os sem-terra indiciados não foram ouvidos. Costa entregou o relatório à Justiça e não quis falar com a Agência Folha.
Segundo o relatório, os indiciados são aqueles que aparecem na fita gravada pela reportagem da TV Liberal (filiada à TV Globo) durante o massacre atirando contra os policiais militares, depois que estes atiraram com fuzis e metralhadoras contra os sem-terra.
Além dos sem-terra, mais dois civis foram indiciados. O funcionário da fazenda Macaxeira Gilberto Macedo Leão, conhecido como "Jamaica", foi acusado de estar infiltrado entre os PMs. Ele foi indiciado sob acusação de co-autoria de homicídio doloso (intencional) e lesões corporais.
Ricardo Marcondes, que se identificou como gerente de uma fazenda, também foi indiciado. Ele afirmou que existia um esquema de propinas pagas pelos fazendeiros aos PMs. Segundo Costa, não há nenhum indício que comprove esse esquema. Ele foi indiciado sob acusação de falso testemunho.
Wanderlei Ladislau, advogado dos sem-terra, disse achar "total absurdo" o indiciamento e que vai "sustentar a tese de legítima defesa". Leão e Marcondes não foram localizados pela Agência Folha.

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