São Paulo, sexta-feira, 19 de julho de 1996
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Santos interna travesti em ala feminina

LUCIA MARTINS

SAÚDE Deliberação do Conselho Municipal obriga hospitais da rede pública a colocar transexuais junto com mulheres Santos interna travesti em ala feminina

Os travestis também têm de ter seus nomes femininos registrados no prontuário médico e, no caso de visitas, seus companheiros têm que ser tratados como cônjuges.
A proposta partiu do grupo gay Filadélfia. Segundo o grupo, os travestis são vítimas de agressões verbais e até físicas quando são internados junto com homens.
Pela deliberação, os homossexuais continuam a ser internados na ala masculina.
A medida foi aprovada em votação, mas não tem força de lei. "Mas, apesar disso, temos que cumprir as deliberações do conselho", disse o secretário municipal da Saúde de Santos, Cláudio Pessanha Henriques, 34.
Os hospitais particulares e do Estado não são obrigados a cumprir a medida. O secretário disse que ainda está estudando a possibilidade de transformar a medida em projeto de lei.
"Vamos primeiro conversar com todos os responsáveis pelos hospitais municipais, particulares e do Estado para ver como essa medida será aceita."
O conselho existe desde 90 e, a cada dois anos, realiza uma conferência e vota propostas. Na última conferência, segundo o secretário, das 132 deliberações aprovadas, 96 foram colocadas em prática.
A deliberação deixa o hospital livre para que ele crie uma ala especial para travestis, mas o secretário acha que isso será difícil de ser realizado por causa da falta de leitos.
"Vai depender da necessidade e possibilidade de cada hospital."
'Claudia' O PS Municipal já está cumprindo a deliberação do conselho.
Ontem, o professor primário Antonio Claudio Sales, 40, ou Claudia, dividia o quarto com Tereza, que não quis dar o último nome. "Me sinto muito mais à vontade aqui junto com mulheres. Me sinto mulher e, por isso, não tenho vergonha de me trocar na frente delas", afirmou Claudia.
"Para mim, ela não é homem", disse Tereza. Claudia tem o vírus da Aids e está internada há cinco dias. "Em todas as vezes que estive internada nunca fui agredida. Todos me tratam muito bem."
Numa sala ao lado do local onde estão Claudia e Tereza, há outras pacientes mulheres, que não concordam em dividir o quarto com travestis.
"Travestis são humanos iguais aos outros, mas eles têm que ter seu próprio local", disse Valdice Simões, 63. "Não dá para dividir o banheiro com um homem, seja travesti ou não", afirmou Aparecida Souza, 38.

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