São Paulo, sexta-feira, 19 de julho de 1996
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Notícia de Nova Atenas

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Tertuliano, frívolo peralta, que foi um paspalhão desde fedelho ("d'après" Artur de Azevedo), arranjou um amigo que acreditava em tudo o que ele dizia.
Bem verdade que tudo que Tertuliano dizia era em louvor e glória a esse amigo, do qual Tertuliano tornou-se mais amigo quando este foi eleito vereador e mais tarde prefeito de Nova Atenas.
Progressista burgo no setentrião brasileiro, Nova Atenas era famosa pela produção de fibras do babaçu e derivados, sendo que o principal desses derivados eram os filósofos pré e pós-socráticos que a cidade fornecia aos magotes.
O amigo de Tertuliano, antes de ser vereador e prefeito, fora filósofo, nascera filósofo, uma vez que seu pai e avô o haviam sido. E mais: conseguira ser pós e pré-socrático ao mesmo tempo -façanha que encontrou em Tertuliano um arauto e apologista.
Todos os habitantes de Nova Atenas acumulavam a função de produtores de fibra do babaçu e de filósofos pré ou pós-socráticos, sendo Tertuliano a única exceção, pois tinha alergia ao babaçu e nada entendia de filosofia, fosse de antes ou depois de Sócrates.
Por mais que se mostrasse equidistante, tanto do babaçu como das disputas filosóficas, houve um cisma em Nova Atenas a respeito de uma questão que empolgou todos os segmentos da sociedade: o vice-prefeito morrera de insulto cerebral ao ser insultado pelo prefeito a propósito de uma questão que se tornara o divisor de águas na política e na filosofia da cidade: a substância antecede ou procede dos acidentes?
Para falar a verdade, Tertuliano não tinha preferência sobre o assunto, tanto lhe fazia uma ou outra opinião. Mesmo assim, ganhou pontos na estima geral e rendoso emprego municipal ao sugerir que o prefeito produzisse, em vez de fibra de babaçu, um longa-metragem sobre a questão. O filme foi premiado no festival de Karlovy Vary.

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