São Paulo, sábado, 20 de julho de 1996
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Tereza Rachel ri da amargura em "Encontro"

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Terceira idade. O tema, é preciso admitir, não é dos mais populares ou comuns no palco brasileiro. Sobretudo, não na forma com que surge em "Encontro no Supermercado".
Apresentado como comédia romântica, o espetáculo é principalmente amargo, com o retrato de uma viúva esportiva e um viúvo ranzinza, ambos nos seus 60 anos, esforçando-se desesperadamente por não irem mais sozinhos ao cinema.
Os dois se encontram num supermercado e, em sofreguidão, logo namoram e logo querem casar, dias, horas depois -ele, pelo menos.
A sombra da solidão, as manias, as diferenças, tudo concorre para tornar a ligação próxima do insuportável. Só não chega ao rompimento porque, com resignação, mas também com algum carinho, eles acabam por sorrir e rir, em meio a tudo.
Boa parte do humor se deve à interpretação de Tereza Rachel.
No ponto exato entre a comédia e a amargura, rindo de si mesma no papel de Rachel, a viúva judia, ela mostra porque vem de ser considerada uma das grandes atrizes brasileiras das últimas décadas.
No palco, expõe as fraquezas de Rachel, os medos, inclusive quanto à decadência física, sem constrangimento. Enternece, tanto quanto faz rir.
Luiz Carlos de Moraes, que interpreta o viúvo Benjamim, ríspido, mas também, por vezes, juvenil e apaixonado, contrapõe ao humor de Tereza Rachel um outro, mais grosseiro.
Não chega às sutilezas emocionais de Rachel, mas é o que pede o personagem e é o que ele apresenta, com competência.
Ainda assim, a peça de Shula Megiddo, em cartaz no teatro "A Hebraica", reúne, aos momentos de humor e carinho, outros superficiais e arrastados.
No país, muito se perde da comédia verbal, judaica, com o exagero das tramas paralelas e pequenas piadas, muitas das quais cenas humorísticas breves e típicas -como nos excessivos telefonemas.
Nem a experiência de comediantes de Tereza Rachel e Luiz Carlos de Moraes, nem o longo percurso da montagem, desde a estréia, conseguem vencer a modorra a que, em momentos, desce o espetáculo.

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