São Paulo, sábado, 20 de julho de 1996
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Edição termina com recorde de público

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM MONTREUX

Com um concerto especial do trio do pianista canadense Oscar Peterson, termina hoje à noite, na Riviera Suíça, a 30ª edição do Montreux Jazz Festival.
"Ainda não temos os números finais, mas já podemos afirmar que atingimos um recorde de público que dificilmente será repetido nos próximos anos", disse à Folha o coordenador de relações públicas do evento, Frederik Stucki.
Segundo ele, o número de espectadores que frequentaram os shows pagos e gratuitos, durante 16 dias, aproxima-se de 200 mil.
"A chuva atrapalhou um pouco nos primeiros dias, mas conseguimos encontrar formas de atrair as pessoas para o interior do Centro de Congressos, como o novo Montreux Jazz Café", diz Stucki.
Pouca novidade
O recorde de público esconde, porém, um sensível problema de caráter artístico. Ao optar por um programa recheado de astros pop já estabelecidos, como Phil Collins, Simply Red ou Deep Purple, o festival comprometeu seu antigo hábito de revelar artistas jovens e novas tendências musicais.
Até mesmo a noite de acid jazz, que contou com US3, Groove Colective e Gabrielle neste ano, foi pálida em relação às de 94 e 95.
As boas surpresas desta edição ficaram por conta de veteranos, como o "soulman" Isaac Hayes.
Algo semelhante se deu na área do jazz. O destaque fica com o pianista McCoy Tyner e o saxofonista Pharoah Sanders, que se mostram no auge da forma, já na casa dos 50 anos -exatamente como o trio dos guitarristas Paco de Lucia, John McLaughlin e Al DiMeola.
Entre os cantores brilharam Cassandra Wilson e Oleta Adams, que apesar de estarem na estrada há uma década, só começam agora a cair nas graças do grande público.
A noite brasileira, com Maria Bethânia, Milton Nascimento e o tributo a Elis Regina também foi irretocável este ano, combinando casa cheia com qualidade musical.
Já a noite baiana, que teve em Armandinho e Pepeu Gomes seus pontos altos, indicou não só a crise da axé music, como uma nova questão. Por que não dar chance a outras regiões, como Minas Gerais ou Pernambuco, de mostrar sua música em Montreux?
Prejudicado pelo gigantismo desta 30ª edição, o festival de Montreux chega a um momento de decisão. Se não retomar seu costumeiro compromisso com a novidade e a qualidade musical, corre o risco de se descaracterizar. Vai acabar virando apenas uma grande feira, onde se vende até música.

O jornalista Carlos Calado viajou a convite das gravadoras EMI, PolyGram e Wea.

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