São Paulo, sábado, 20 de julho de 1996
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Tudo é jazz para o 'dono de Montreux'

WASHINGTON OLIVETTO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM MONTREUX

Depois de anos sendo convidado por meus amigos André Midani, chefão da Warner em Nova York, e Claude Nobs, dono do festival de jazz de Montreux, neste ano finalmente estive na Suíça, patrocinado por mim mesmo.
Para quem não sabe, Montreux fica a uma hora de carro de Geneve, na Suíça francesa, e a uma hora e meia de Berna, a capital, na Suíça alemã. Além, é claro, de ficar ao lado de Vevey, sede da Nestlé e capital mundial do leite Ninho.
Montreux é, também, a cidade com maior índice de "Xuxas" per capita do planeta. Vi diversas pelas ruas, todas loirinhas, saudáveis, de shortinho, absolutamente anônimas. Óbvio: Montreux não tem Marlene Mattos nem TV Globo. Mas novela da Globo tem: "Saramandaia" está passando lá.
A cidade vive em função da música e contrasta fortemente com o resto da Suíça, que na verdade é uma estranhíssima ilha: uma porção de bancos cercados de vacas por todos os lados.
Claude Nobs, o cara que "inventou" Montreux, foi curiosamente expulso dela 38 anos atrás, por conta do seu comportamento fora dos padrões da época. Então mudou-se para Nova York, foi trabalhar no mundo do disco e só voltou para casa quando seu patrão, Nissuin Ertegun, o nomeou presidente da Warner suíça.
Ertegun era realmente um sujeito fora de série. Ficou bilionário lançando música de boa qualidade. Construiu a história da Warner, de Billie Holiday a Madonna, de Sinatra a Prince.
Ofereceu jantares em sua casa com música ao vivo do Modern Jazz Quartet. Como se não bastasse, só porque gostava de futebol, montou o Cosmos de Nova York, com Pelé, Beckembauer, Cruyff, Carlos Alberto etc.
Claude Nobs, por sua vez, soube aproveitar a oportunidade que Ertegun lhe entregou de mão beijada. Montou o festival em 1967 e se transformou no dono de Montreux. Tudo começou no velho cassino, incendiado em 1971 e imortalizado pela canção "Smoke on the Water", do Deep Purple. Só no final dos anos 80 a prefeitura construiu um "Palais" especial para o festival.
A construção tem dois espaços para shows -salão Stravinsky, para 2.000 pessoas, e salão Miles Davis, para 800-, locais para exposição e venda de discos, livros, vídeos, equipamentos de som, computação, artes plásticas, três bares e uma danceteria gigantesca.
Os salões têm cadeiras quando a música é para ouvir sentado, que desaparecem como por encanto quando a música é para dançar. Tudo funcionando como um relógio.
Mais de 200 mil pessoas vão a Montreux durante o festival e consomem tudo o que estiver à venda, de música aos quadros e gravuras de Miles Davis, que estavam lá neste ano, deixando claro que o Picasso da música pintava como o Matisse devia tocar trompete.
Cada uma das 15 noites do festival tem no mínimo cinco shows diferentes. Segundo o Claude me contou, uma noite custa em média US$ 200 mil em cachês. Isso porque, evidentemente, os artistas cobram menos devido ao prestígio do festival. Esses US$ 200 mil correspondem a 30% do custo total.
Bilheterias e patrocinadores cobrem o resto. Os patrocínios deste ano vieram dos cigarros Barclay, relógios Tag Heuer, Societé dos Bancos Suíços, cerveja Heineken, equipamentos National, seguradora Genevoise e Nestlé.
As grandes estrelas se hospedam no Montreux Palace, mas há vários outros hotéis na cidade, todos com serviço evidentemente suíço. Claude Nobs promove diariamente almoços/jantares em sua casa, das quatro da tarde às oito da noite, para artistas convidados, alguns amigos escolhidos e meia dúzia de patrocinadores.
Estive em quatro desses almoços. Encontrei o Simply Red, o Little Richard, o sr. Nestlé, o Elvis Costello, a Cassandra Wilson, o casal National, o Al Jarreau, os ZZ Tops, enfim, uma porção de pessoas físicas e jurídicas de fino trato.

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