São Paulo, sábado, 20 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Identificação das vítimas deve demorar

PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

Apenas dois dos mais de cem corpos resgatados após a explosão do Boeing-747 da TWA haviam sido identificados até 17h de ontem.
Segundo Charles Wetli, chefe da equipe médica responsável pelo trabalho, os corpos estão muito desfigurados, parte por queimaduras, parte pelo impacto com a água. Wetli afirmou ainda que encontrou vítimas de afogamento.
"Seria desumano trazer as famílias para ver os restos mortais agora. Os corpos tem muitos ferimentos, inclusive no rosto", disse ontem, em entrevista coletiva.
Uma das identificações ocorreu por acaso: um dentista reconheceu um amigo pessoal entre as vítimas ao examinar sua arcada dentária, segundo o médico.
O trabalho da equipe médica tem como objetivo ainda encontrar indícios sobre a causa da explosão do 747. Segundo Wetli, em nenhum dos corpos examinados até agora foram encontrados resíduos ou ferimentos que confirmem a hipótese de uma bomba na área de passageiros. Mas, de acordo com ele, ainda é preciso examinar muitos cadáveres. Nenhuma possibilidade foi descartada.
"Sabemos que a demora está deixando os familiares frustrados, mas esse é um longo e tedioso trabalho", disse Wetli.
No hotel Ramada, no aeroporto JFK (Nova York), 110 famílias de vítimas aguardam informações sobre seus parentes há dois dias.
O prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, voltou a criticar a companhia aérea TWA pela falta de assistência às famílias.
"O presidente da TWA deu informações falsas para mim sobre o andamento dos trabalhos. Imagino o que ele disse para quem não é prefeito de Nova York", afirmou.
A TWA divulgou ontem uma lista não-oficial de passageiros, onde há duas pessoas não-identificadas.
Entre os mortos, estão Charles Hank Gray, presidente do grupo financeiro Midland, e Kirk Rhein Jr, presidente da companhia de seguros Danielson Holding. Eles iam a Paris apresentar os planos de fusão da Danielson com o grupo Midland a investidores franceses, um negócio de US$ 78 milhões.
Gray deveria viajar a Paris de Washington, mas uma reunião de negócios o fez perder o avião. Ele foi de carro a Nova York a tempo de pegar o vôo 800 da TWA.
Foi por acaso que Judith Connelly Delouvrier, 47, mulher do executivo Phillipe Delouvrier, embarcou no avião que explodiu.
Ela deixou os três filhos em Paris, após três semanas de férias, para inspecionar a reforma de sua casa, em uma área valorizada de Nova York. Inicialmente, Judith voltaria ontem, mas terminou seus afazeres antes e correu ao aeroporto para conseguir um lugar no vôo 800.
Também a negócios estava o decorador Jed Johnson, 47, um nova-iorquino que tinha Richard Gere e Mick Jagger entre seus clientes.
Já o casal Edwin e Ruth Brooks havia escolhido Paris para festejar o aniversário de 80 anos de Edwin, ex-presidente das indústrias Taco. Os dois passavam pelo menos quatro meses por ano viajando e já haviam visitado países como Tailândia, China e Austrália.
A história do garoto francês Ludovic Chanson, 11, entristeceu também os EUA. Ele estava voltando para sua casa depois de três semanas de intercâmbio com a família Capozza, de New Jersey.
Luke Capozza, 13, foi ao hotel Ramada em busca de informações. "Achei que haveria sobreviventes, e que Ludovic seria um deles. Agora não há mais esperança", afirmou o menino, chorando.
No dia do embarque, Ludovic usava uma camiseta do time de basquete Chicago Bulls e o tênis da marca do jogador Dennis Rodman. "Ele adorava basquete e sorvete de pistache", disse Luke.

Texto Anterior: Para FBI, investigação de desastre é criminal
Próximo Texto: Objetos são recolhidos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.