São Paulo, sábado, 20 de julho de 1996
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O resgate do homem do campo

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Entre as metas nacionais mais urgentes encontra-se, sem dúvida, a promoção das famílias que habitam e trabalham nas zonas rurais.
A história do êxodo rural nos últimos decênios atesta o drama de milhões de famílias, expostas a violências e sofrimentos indizíveis, que nos obrigam a unir esforços em bem do homem do campo.
A política agrícola não pode ser considerada apenas sob a perspectiva da produção de alimentos, com descaso pela situação dos trabalhadores rurais.
Há valores que devem ser assegurados. O ambiente rural facilita a convivência familiar, o contato com a natureza, a aproximação entre as gerações, a partilha no trabalho e nos momentos de lazer e descanso. Na atual fase do desenvolvimento nacional são muitas as famílias que lutam por conseguir o uso e propriedade da terra, na qual possam morar e encontrar honesto sustento, de acordo com suas inclinações e capacitação nos trabalhos.
Crescem, com efeito, os grupos de acampados à espera do assentamento que lhes é devido. Em 1995 houve 554 conflitos pela posse da terra e no primeiro semestre deste ano a violência no campo já fez 33 vítimas.
É chegada, portanto, a hora de uma ação política, inteligente e conjunta da sociedade brasileira para criar, sem violência, condições de redistribuição da terra. As leis devem regulamentar a propriedade rural, de modo a salvaguardar a vontade do Criador, que destinou as riquezas da natureza para o bem de toda a humanidade.
Não é justo que haja terra ociosa ou abusivamente concentrada nas mãos de poucos, quando a maior parte da população rural não tem acesso à propriedade e padece fome e miséria.
A promoção do homem do campo, além dos incentivos econômicos indispensáveis para a aquisição de instrumentos, sementes, melhoria do solo, irrigação, combate às pragas, requer três indispensáveis iniciativas por parte do governo e da sociedade.
A primeira é a educação que assegure o ensino básico e a capacitação profissional adequada à cultura e exigências do meio rural. Precisamos, porém, valorizar e subsidiar as "escolas-famílias-agrícolas", que alternam a presença na família e na escola, oferecendo pedagogia própria ao homem do campo.
A segunda é o atendimento à saúde, com medicina comunitária preventiva, condições sanitárias e rede de hospitais no interior. Acrescente-se a terceira iniciativa, a tecnologia, que facilite e melhore a produção agrícola, a pecuária, a avicultura e outros setores.
Muito dependerá dos novos programas de governo nos municípios e Estados. Merece louvor especial a Fundação Banco do Brasil, que escolheu, como prioridade de sua atuação em 1996, promover o homem do campo, apoiando milhares de projetos de camponeses e pequenos produtores.
A caridade cristã no Brasil passa necessariamente pelo resgate da dignidade dos trabalhadores rurais.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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