São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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Maternidade reduz morte sem gastos

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Osasco tinha em 1994 a maternidade estadual com a mais alta taxa de mortalidade em São Paulo. Foram 7 mortes em 1.377 partos feitos pelo hospital regional.
O coeficiente de mortalidade ali era similar ao do Gabão, na África -436 mortes por 100.000 partos.
Ano passado, o regional virou um Equador. O coeficiente de mortalidade caiu duas vezes e meia (164). Foram 4 mortes para 2.436 partos. Os recursos investidos em 1994 e 1995 foram praticamente idênticos.
"É muito fácil reduzir a mortalidade materna. Aqui, nós colocamos os médicos para trabalhar e passamos a cobrar o respeito à vida", diz João Carlos Caruso Silveira, 34, diretor da maternidade desde maio do ano passado.
Quatro por um
Antes disso, segundo Silveira, a maternidade operava com uma aritmética toda própria: quatro médicos eram escalados para o plantão, só um aparecia e não acontecia nada aos outros três.
Silveira diz que uma das explicações para a queda da taxa de mortalidade é que agora os quatro médicos escalados para o plantão trabalham de fato.
O descaso à vida, segundo ele, tinha vários símbolos: "Quando cheguei lá havia fezes numa sala fechada que ficava no mesmo andar da maternidade", conta.
Outro símbolo: as mulheres que chegavam para dar à luz ficavam junto com tuberculosos, alcoólatra e acidentados. Silveira abriu uma porta só para as grávidas.
Havia várias salas fechadas, mas as pacientes ficavam em macas no corredor e até no chão.
Qualidade
Passou também a cobrar qualidade dos médicos. Prega num painel a estatística de cada equipe. "Mexi com o brio dos médicos e deu certo. Antes, ninguém cobrava nada", relata.
Em casos mais graves, ele deixa a sutileza de lado. "Uma vez cheguei para um médico e disse: 'Você matou uma criança'. Ele pediu demissão no dia seguinte."
Segundo Silveira, as quatro mortes registradas em 1995 eram pacientes de alto risco, que chegaram ao hospital à beira da morte.
O hospital regional é referência para gravidez de alto risco para 16 municípios e para a região centro-oeste da cidade de São Paulo.
Opera na região da Grande São Paulo em que há o maior déficit de leitos para gestantes: 72.
(MCC)

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