São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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Congresso alerta para vírus desconhecido

DA REPORTAGEM LOCAL

Dezessete pessoas em cada mil no Estado de São Paulo são portadoras do vírus HTLV. O vírus é um primo do HIV e provoca leucemias, linfomas, paralisias e outras doenças.
Apenas 3% das pessoas infectadas manifestam doenças, o que significa que a grande maioria dos portadores do HTLV não sabe que tem o vírus.
Estão contaminando outras pessoas em relações sexuais, contato com sangue e mesmo pelo aleitamento.
Para alertar sobre a incidência desse vírus, será realizado em São Paulo, de 24 a 26 de julho (quarta, quinta e sexta), o 1º Congresso Nipo-Brasileiro de HIV-HTLV.
"A maioria dos médicos, mesmo os especialistas, não sabe da existência do vírus", diz o infectologista Ricardo Veronesi, coordenador do congresso e professor da USP e da Universidade de Mogi das Cruzes.
Lei
Só em 1993, o professor Dalton Chamone, presidente da Fundação Pró-Sangue Hemocentro, conseguiu tornar obrigatório por lei os testes de HTLV nos bancos de sangue do país. "Na época me chamaram de maluco. Hoje já há uma consciência da gravidade desse vírus", diz o médico.
Dalton Chamone será o presidente de honra do congresso nipo-brasileiro.
A prevalência de 0,17% (17 pessoas com HTLV em mil) foi detectada pela Pró-Sangue entre doadores de sangue no Estado de São Paulo. No Rio Grande do Sul a incidência é muito maior, chegando a 3% em alguns bancos de sangue.
O HTLV é considerado endêmico em certas regiões do Japão e sua presença foi detectada em quase todas as partes do mundo.
Uma pesquisa realizada na Grande São Paulo por Veronesi entre 103 imigrantes japoneses da província de Okinawa detectou a presença de 13% de portadores do vírus. Nenhum dos contaminados -todos com mais de 70 anos- apresentavam sintomas da doença.
"O HTLV é de 10 a 30 vezes mais prevalente que o HIV, mas ainda não mereceu a atenção dos médicos, pesquisadores e laboratórios", afirma Veronesi.
Ele acredita que, mesmo obrigatório por lei, muitos pequenos bancos de sangue do interior do país ainda não façam o teste para o HTLV.
O congresso nipo-brasileiro está sendo realizado pelo New York Blood Center, Universidade de Mogi das Cruzes, Universidade de Kioto, Secretaria de Estado da Saúde e Fundação Pró-Sangue-Hemocentro.
Entre os temas em pauta está o estudo de portadores do HIV que já convivem com o vírus há 15 anos e não apresentam sintomas da doença.
Também será feito uma espécie de balanço da imunoterapia passiva, terapia na qual doentes de Aids recebem o plasma rico em anticorpos presente no sangue de portadores sadios.
Cerca de 30 pacientes vêm recebendo essa terapia na Fundação Pró-Sangue. John Lambert, da Universidade John Hopkins, um dos defensores da terapia, participará dos debates.

Informações sobre o congresso pelos telefones (011) 578-0121 ou 578-6457

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