São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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Ser sexador é mais difícil do que parece

DA REPORTAGEM LOCAL

A profissão de sexador, além de pouco conhecida, é tida com a galinha dos ovos de ouro para quem a vê de fora.
Com pouquíssimos profissionais no país -o número não chega a 80-, algumas pessoas acreditam que ele ganhe muito bem e trabalhe pouco.
Na verdade, o sexador trabalha cinco ou seis dias por semana, trancado em uma sala mal ventilada e iluminada por uma luz fluorescente.
Por meio do tato e da prática, classifica e separa pintinhos de até um dia pelo sexo.
A técnica é dominada por descendentes de japoneses e consiste basicamente em examinar a cloaca (câmara na extremidade do canal intestinal das aves) dos pintos recém-nascidos -de, no máximo, um dia de vida.
"Existe uma diferença na cloaca. Uma saliência determina o sexo. O cliente pode precisar de pintos machos ou de fêmeas para fabricar ovos para consumo", diz Tacaaqui Mifune, 49, presidente da Associação Brasileira de Sexadores.
Condições de trabalho
"Trabalhamos em média seis dias por semana, durante 10 ou 12 horas por dia, em vários lugares e cidades diferentes", conta o sexador, que mora em Mogi das Cruzes (50 km a leste de São Paulo).
É uma vida de caixeiro-viajante, diz. "Então passamos dois dias em uma cidade, três em outra, e assim vai", afirma.
Além de enfadonha, a profissão, segundo ele, está em extinção. Isso porque aves geneticamente preparadas já podem ser classificadas externamente, pelo visual da asa ou das cores.
"Já tivemos o primeiro nascimento determinado por essa técnica, chamada de autosexagem."
Mas há quem discorde que a genética traga o fim da profissão, cujo serviço é requisitado por grandes empresas do ramo, por mais tecnologia que utilizem.
"A autosexagem não ameaça a profissão. É preciso ser feito um trabalho anterior na reprodução para a identificação externa", diz Mário Kawahito, 55, sexador há 30 anos, que atua em grandes empresas, como Agroceres e Perdigão.
"Aqui no Brasil isso não é feito, só nos Estados Unidos. Na parte reprodutora, ainda é totalmente manual", diz, tranquilo.
Segundo ele, o aprendizado não é fácil, pelo fato de ser feito informalmente. "É difícil, a pessoa precisa praticar durante cinco anos e não existe escola. Só prática."
Ele diz ter aprendido o ofício em empresas. "Escolas só existem no Japão." Mas Kawahito confirma que o trabalho é "bem chato". "Você fica só se dedicando a isso, o tempo todo."

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