São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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"Morar perto" pode ser desvantagem

OSCAR RÔCKER NETTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Morar próximo a locais movimentados tem suas vantagens. Mas os vizinhos imediatos desses lugares podem ter seus imóveis desvalorizados em até 36,5% em relação a outro, de mesmo padrão, localizado uma quadra distante.
Essa é a diferença de preço do metro quadrado de duas casas próximas ao estádio do Morumbi (zona oeste de São Paulo).
A mais desvalorizada fica em frente ao estacionamento do estádio, onde também há três feiras livres por semana. A outra está localizada na quadra de cima, isolada do estacionamento e das feiras.
Situações semelhantes ocorrem com imóveis vizinhos muito próximos de bares, feiras livres e casas noturnas, por exemplo.
"É sempre bom morar próximo, nunca no local", afirma Lincoln Jorge Marques, 39, da Integral Consultoria. Segundo ele, não há um percentual fixo de desvalorização. Depende de cada caso.
"Mas a desvalorização é natural", diz Ronaldo de Castro, 35, gerente de vendas da imobiliária Triumpho. "Demora mais tempo para conseguir vender."
Segundo Marques, esses locais também influenciam a ocupação da região. Redondezas de shoppings ou de terminais de ônibus, por exemplo, tendem a passar de zonas residenciais para comerciais. "O entorno do estádio do Pacaembu, por exemplo, tem poucas moradias e muito comércio."
Agito
A Vila Madalena (zona oeste de São Paulo) transformou-se, nos últimos anos, em uma região com grande concentração de bares, danceterias e restaurantes.
A movimentação está fazendo com que muitos moradores tentem vender suas casas para serem usadas comercialmente, diz Georgina Oliviero, 36, gerente de vendas da Pacheco Imóveis.
"Muitos proprietários estão supervalorizando seus imóveis por causa disso", afirma. Segundo ela, esse sobrepreço chega a 30%. "Fica difícil vender."
A imobiliária recebe cerca de cinco pessoas por dia pedindo avaliação do imóvel residencial para vendê-lo como comercial. "Eles imaginam que podem cobrar mais. Às vezes, conseguem."
Mobilização
Já os moradores da rua Barão de Capanema, no Jardim Paulista (zona oeste de São Paulo), tentaram retirar da rua uma feira livre.
Fizeram um abaixo-assinado, com cerca de 2.000 assinaturas, e requisitaram a transferência à Secretaria Municipal do Abastecimento. Não deu resultado.
Um dos líderes do movimento, o administrador bancário Aluizio Liuzze, 47, está se preparando para deixar o apartamento onde mora há 11 anos. Ele está disposto a aceitar menos que os R$ 300 mil que diz valer seu imóvel de 300 m2.
Liuzze reclama que acorda às 3h nos dias de feira (quintas-feiras) por causa do barulho. "É uma coisa medieval. Com a modernização do comércio, não há razão para existir feira livre."
Nos dias de feira, o administrador tem de ir ao trabalho de táxi. Sua mulher faz o mesmo para levar os três filhos para a escola.
"Para quem mora na rua, deve ser terrível. Mas para mim é ótimo. Compro sempre lá", afirma Marilena Hilgendorff, 58, que mora a cerca de 150 metros de Liuzze.

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