São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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A produtividade na construção

EMIR CESAR MAIDA

A escassez de recursos e a concorrência têm levado o setor da construção civil, um dos mais importantes do Brasil, a uma busca desenfreada e a qualquer custo pelo aumento da produtividade.
Como o acabamento é por demais visível aos olhos dos compradores, essa tendência atinge principalmente aquilo que permanece oculto a olhos leigos: a estrutura e as instalações.
Entre as maiores causas da queda de qualidade do produto final e do futuro aparecimento de patologias no edifício estão projetos "enxutos" (elaborados por profissionais contratados em concorrência pelo critério do preço mínimo, nem sempre com a experiência requerida) e o uso de materiais de mesma aparência, mas de preço menor e durabilidade duvidosa, bem como falta de controle adequado.
Infiltrações por trincas e rachaduras na cobertura ou em terraços, deterioração do concreto, corrosão de armaduras ou deslocamento de revestimentos acabam se tornando insignificantes diante de um incêndio, explosão e até mesmo o colapso total da estrutura, provocados por instalações de gás mal feitas ou fiação elétrica subdimensionada.
Quanto custará e quem arcará com os preços de manutenção desses empreendimentos no futuro? Quantas são atualmente as estruturas de concreto ou aço que se encontram avariadas por não terem sido acompanhadas de forma competente e idônea durante a fase de construção?
São perguntas que assustam e ficam sem respostas.
Felizmente alguma coisa já está sendo feita. O "Controle Tecnológico do Concreto e do Aço", com os quais será executada a estrutura, que era antes obrigação técnica, hoje é obrigação legal.
Diz a lei federal 8.078 (Código de Defesa do Consumidor), em seu artigo 39, inciso VIII:
"É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços:
VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - Conmetro."
As normas NBR 6.118 e NBR 12.655, para o concreto, e NBR 7.480, para o aço, determinam o controle tecnológico da resistência desses materiais.
As sanções previstas são as seguintes: multas de 200 a 3.000 UFirs, suspensão temporária das atividades e interdição da obra.
Isso ainda não tem sido rigorosamente observado por todos, mas já significa um grande avanço.
Muitos construtores, porém, ainda crêem que gastos com a qualidade representam despesas sem retorno. Somente ao se depararem, no futuro, com os altos custos de um reparo estrutural eles entenderão que aqueles que atuaram com qualidade fizeram um investimento. Então, eles vão passar a encarar as empresas ligadas à qualidade como seus maiores aliados para atingir a meta comum: produtividade com qualidade.

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