São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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REELEIÇÃO SEM RECEITA

O presidente FHC declarou há dias que "aceita" ser reeleito. Não há nessa revelação novidade alguma. O que muda, a cada momento, são as formas, os volteios empregados para levar o projeto da reeleição adiante.
A passagem da reeleição pelo Congresso e uma eventual chancela do nome do presidente nas urnas, entretanto, dependem sobretudo do desempenho da economia nos próximos meses e, em especial, no início de 97. E já está claro que a popularidade num sentido amplo e mesmo o apoio entre as elites estarão condicionados não só pelo sucesso na estabilização dos preços, mas também pela capacidade do governo de vitaminar a economia. O desafio é conseguir crescer mais sem colocar em risco a estabilidade conquistada.
Há razoável consenso, e algum temor, quanto às restrições externas ao crescimento. Entenda-se: com a economia mais aberta a importações, quanto mais se cresce maior o valor das compras externas. O déficit comercial é elemento de risco importante nas avaliações sobre o futuro da taxa de câmbio. E a taxa de câmbio é a "âncora" da estabilidade.
Nesse contexto, o governo teria várias alternativas. A primeira seria priorizar a inflação baixa e, em defesa da estabilidade cambial, novamente frear o crescimento. É o caminho de menor risco para a inflação e as contas externas, mas não necessariamente a mais virtuosa do ponto de vista dos apoios à reeleição.
Outra hipótese seria simplesmente crescer e aceitar o déficit comercial maior pelo tempo que fosse necessário para criar otimismo suficiente na sociedade. Seria uma linha de tons mais marcadamente populistas, mas não necessariamente catastrófica. Se os mercados internacionais financiarem o déficit externo, o modelo iria adiante um pouco como foi o modelo mexicano. Mas uma terceira hipótese continuaria sempre sobre a mesa.
Essa terceira alternativa seria imaginar que o governo, mais cedo ou mais tarde, teria de desvalorizar o câmbio, provavelmente impondo uma redução ao crescimento econômico. A freada com desvalorização reequilibraria a economia e poria uma barreira natural às importações.
Uma última hipótese seria o governo aceitar o déficit externo, mas dependendo menos de apoio financeiro na comunidade internacional. Optaria por "queimar reservas" até o limite do suportável em termos de o Banco Central conseguir frear a corrida especulativa.
A reeleição presidencial depende hoje de complicados malabarismos políticos. A receita econômica, entretanto, não é menos tortuosa. Há vários caminhos, nenhum deles totalmente seguro.

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