São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 1996
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O inferno é a falta de imaginação

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

E abriu-se sob os pés brasileiros em Miami a boca do inferno que tanto se temia. Depois de um primeiro tempo frouxo, um segundo que beirou o desespero, sobretudo após o gol japonês (ou teria sido um gol contra brasileiro?).
E por quê? Entre outras coisas porque, pela primeira vez nestes dois anos de preparação da equipe, os nossos dois meias -Rivaldo e Juninho- não tiveram nem uma centelha de imaginação sequer. E eles são a luz no fim do túnel.
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É verdade: Zagallo, apesar dos cabelos brancos, é um treinador ligadíssimo em seu tempo. Aliás, o velho Zagallo é mais atualizado do que era o moço Zagallo de 20 anos atrás, que entrou em perplexa vertigem quando se viu, de súbito, no centro do Carrossel Holandês, a grande revolução que ficou suspensa no tempo e no espaço.
Sim, porque, até então, o futebol caminhava em movimentos lentos, dentro de uma lógica progressiva: do sistema clássico (dois beques -um de espera, outro de avanço-, três médios e cinco avantes) para o WM, com o seu quadrado mágico no meio-campo (três beques, dois volantes, dois meias e três avantes). A partir daí, vieram todas as demais variações: diagonal, 4-2-4, 4-3-3 e o atual 4-4-2 básico que, em certos casos, como o da Dinamáquina, vira 3-5-2, ou o algo como o 4-3-1-2 com que Zagallo batizou o sistema de seu time.
A ruptura deu-se com o Carrossel Holandês, um sofisticado sistema de girândolas que brotavam em torno da bola, onde ela estivesse, como flores silvestres, cujas sementes morreram nos campos alemães.
Hoje em dia, o que se vê é a padronização do 4-4-2, uma novidade do início dos anos 80, mais ou menos retrancado, dependendo da cabeça do técnico e da habilidade dos jogadores escolhidos para o meio-campo.
Essa estagnação, ainda mais evidente na recente Eurocopa, somada à maciça divulgação global do futebol, via satélite, simplesmente impediria que Zagallo ou qualquer outro treinador no mundo caísse no anacronismo.
Afinal, nestes tempos parabólicos, só não se atualiza quem já morreu.
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Os que lá estão informam que a Olimpíada segue sob o signo da bagunça. É sinal de transmissão que despenca aqui, luz que apaga ali, muita desinformação, caos no trânsito em direção aos estádios, em que se esgotam os ingressos e abrem-se largos espaços de cadeiras vazias etc.
Na Copa do Mundo, também realizada lá no centro da organização do mundo, foi mais ou menos assim. Depois, eles reclamam que os olhinhos puxados vão tomando os cordéis nas mãos.
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Só faltava o "Dream Team" naufragar nesse caos, pensei cá comigo. Ligo a TV e quase vejo o impossível acontecer: a Argentina dando o maior sufoco naqueles maravilhosos e milionários negrões.
Olho a tabela de medalhas do primeiro dia, e lá estão os americanos em 11º, só um lugar acima dos brasileiros. Desculpe a ignorância, mas Salém fica perto de Atlanta?
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Disse aqui, outro dia, que Flamengo e São Paulo podem fazer a final do Brasileirão. E podem mesmo, embora o tricolor, a partir da entrada de Parreira, passe a ser uma incógnita. E mais será ainda se não reforçar seu elenco, no qual há um abismo entre a maioria dos titulares e os reservas, com algumas poucas exceções, tipo França.
Agora, o que não se pode é descartar desde já o Palmeiras de Luxemburgo, mesmo com as recentes e fundas defecções.

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