São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 1996
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Velhice desamparada. O que fazer?

NELSON GUIMARÃES PROENÇA

O que se passou na clínica Santa Genoveva, no Rio de Janeiro, obriga-nos à reflexão. Até porque, de uma maneira ou de outra, está ocorrendo em uma centena de hospitais, distribuídos por este Brasil, destinados ao atendimento de doentes terminais ou de idosos. A responsabilidade governamental já está suficientemente apontada. Também a dos donos dessas clínicas. Ambos são reconhecidamente culpados, e não há como absolvê-los. Mas e a sociedade não é também responsável? Estou convencido de que sim.
Ao simplesmente transferirmos para o governo todo o peso do atendimento ao idoso, lavando nossas mãos, estamos condenando nossos idosos ao desamparo. Para atender a uma população de idosos em constante aumento, temos de elaborar um programa de trabalho coordenado, que reúna governo e sociedade.
Os países desenvolvidos da Europa ocidental passaram pelo mesmo problema e buscaram diversas soluções. Lá não se ficou apenas em atitude reivindicatória diante dos respectivos governos, mas a busca de soluções foi assumida pela comunidade.
Vejamos algumas das soluções cabíveis.
Uma delas é a experiência alemã. Organizou-se um trabalho de voluntários, recrutados entre pessoas na terceira idade com disponibilidade de tempo. Idosos que tenham se tornado dependentes inscrevem-se no programa de ajuda social. Os voluntários "adotam" esses idosos e passam a visitá-los, enquanto os familiares estão trabalhando. Cuidam desses idosos, fazem sua higiene, ajudam na refeição, levam-nos para passear etc. Os voluntários vão ganhando "créditos", que irão favorecê-los quando se tornarem velhos e dependentes. Aí será sua vez de receber ajuda.
Outra experiência bem-sucedida é o serviço social obrigatório para jovens de 18 anos, em substituição ao serviço militar. Todos podem ser preparados e envolvidos por um ano em programas sociais, entre esses o de assistência à velhice.
E os serviços de Defesa Civil? Todo governo organiza tais serviços, visando preparar a população para situações de catástrofe. Só que, enquanto elas não ocorrem, a Defesa Civil fica parada, sem atividade. Tão desmobilizada que, no momento da catástrofe, age de modo ineficiente. Por que não envolver a Defesa Civil em um programa permanente de atenção aos idosos?
Muita coisa poderá ser feita desde que haja conscientização e participação da sociedade. É por essa estrada que temos de caminhar.

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