São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 1996
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Prazeres da carne tentam atletas

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
ENVIADO ESPECIAL A ATLANTA

Atletas não têm vícios, comem moderadamente e evitam o sexo antes das competições... Se você ainda acredita em papai Noel, então prepare-se para outra decepção: "Há pelo menos três fumantes na equipe de vôlei feminino do Brasil", diz o doutor Arnaldo Santiago, médico do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
"Sexo entre atletas é comum e acontece com frequência em competições como a Olimpíada", afirma o tenista de mesa jamaicano Michael Hyatt.
"A ansiedade muitas vezes leva o atleta a comer de uma forma descompensada", diz Isabel, ex-jogadora da seleção brasileira de vôlei, atualmente na categoria de duplas de praia.
Pequenos pecados da carne podem não ser cometidos por todos, mas poucos desconhecem suas tentações no Olimpo do esporte.
"Eu só fumo durante as competições", tenta justificar-se a esgrimista búlgara Ivana Gueorguieva, enquanto traga um cigarro do lado de fora do ginásio.
A "explicação" de Gueorguieva é típica dos adeptos do cigarro: "A competição de esgrima é mentalmente muito estressante".
Deve ser. Mas as outras não são? "Na esgrima tudo é muito rápido e você, em questão de minutos, passa da euforia à depressão", tenta novamente a loura do Leste -que, apesar das baforadas, acabou eliminada na segunda fase da competição de florete.
"O atleta é um ser humano como outro qualquer", diz o lutador de box dinamarquês Hasan Al, da categoria 67 kg. Mas diferentemente do ex-ministro Magri, que justificou com a mesma frase o uso de uma Kombi do governo para levar sua cadela ao veterinário, Al refere-se ao sexo.
"É normal, não há nada de especial nisso", declara com o liberalismo típico dos europeus do Norte.
Mas como a coisa acontece? Não há controle? Não prejudica o rendimento? "É fácil levar alguém ao quarto", diz Hyatt, óculos escuros, boné e sorrisos.
"O sexo é um tranquilizador, favorece o equilíbrio emocional", autoriza o doutor Santiago, do COB. Sua receita para a vida sexual olímpica é simples: não deve ser reprimida, mas o atleta precisa lembrar que o lugar dos recordes numa competição não é a cama.
"O ideal é que cada um mantenha sua rotina normal", diz Santiago. Nesse caso, o sexo é perfeitamente aceitável, mesmo em vésperas de competições: "O problema da véspera", explica o médico, "é quando o sujeito quer provar que é mais homem do que todos, e acaba perdendo a noite".
Além do sexo e do fumo, a gula também ronda os atletas olímpicos . "É muito importante estar atento ao peso", diz o judoca Aurélio Miguel, da categoria 95 kg. Ouro em Seul (88) e bronze conquistado no domingo, ele recomenda "boca fechada" especialmente no período pré-competição, "quando se acumula energia e já não se treina mais".

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