São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 1996
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Eve Arnold fotografou o glamour e o sofrimento

Mostra no Barbican Centre de Londres reúne 200 imagens

TÂNIA MARQUES
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES

O Barbican Centre está expondo até 18 de agosto uma retrospectiva completa do trabalho da fotógrafa norte-americana Eve Arnold, a primeira mulher admitida pela Magnum, a cooperativa fundada em 1948 por Henri Cartier-Bresson, Robert Capa e outros grandes nomes da fotografia.
Atravessando quatro décadas e com mais de 200 fotos, a exposição mostra o trabalho de Arnold em preto-e-branco ao longo da década de 50, seu uso de cor, concentrado nos anos 70, e o retorno ao p&b a partir de então. Exibe fotos produzidas para a revista americana "Life" em sua época de ouro e para a revista do jornal inglês "Sunday Times", entre outros trabalhos.
A retrospectiva cobre a amplitude de espectro temático que caracteriza a carreira da profissional, uma ardente crítica do macarthismo, do apartheid e da pobreza, que se transformou em espelho do glamour e do poder, fotografando Marlene Dietrich, Marilyn Monroe, Clark Gable, presidentes e primeiro-ministros. Reflexo da trajetória de Arnold, tem como elemento unificador seu olhar curioso, que contudo revela um profundo respeito pelo objeto e o humaniza.
Textos da própria Arnold intercalam-se com as fotos. Em um deles, ela conta a avaliação que Capa fez de seu trabalho quando, em 1954, ela foi convidada a juntar-se à Magnum. "Depois de examinar meu portfólio, do qual faziam parte meu trabalho em torno de Marlene Dietrich e também um ensaio sobre migrantes, ele disse: 'O seu trabalho está -metaforicamente, é claro- entre as pernas de Marlene Dietrich e as vidas amargas dos migrantes colhedores de batatas.' O comentário apontava precisamente para a direção que eu havia escolhido - a vida das pessoas. Das pessoas do mundo, das pessoas comuns, das pessoas célebres."
A essas imagens glamourosas contrapõem-se tocantes retratos da vida em Cuba e no Haiti em 1954 e a famosa foto de Malcolm X recolhendo fundos para os Negros Muçulmanos, de 1960.
O período imediatamente posterior cobre a primeira vinda de Arnold à Inglaterra, onde ela se concentrou na observação de elementos tradicionais e ritualísticos. São retratos de nobres e donas-de-casa contrapondo-se à comemoração do casamento de duas lésbicas em Clapham Common, bairro pobre de Londres.
Os trabalhos realizados na Rússia soviética, na China e no Oriente Médio também são marcantes. Em sua primeira visita à Rússia, Arnold registrou imagens de internos de um hospital psiquiátrico e, contrariando as normas vigentes, conseguiu fotografar dois presos políticos em uma sessão de hidroterapia.
A maior parte do trabalho de Eve Arnold é resultado de idéias da profissional, que trabalhou em colaboração com John Mortimer e Bertrand Russell, por exemplo. "Olhando para trás, eu me dou conta da sorte que tive de estar trabalhando nos Estados Unidos durante a época de ouro da fotografia nas revistas e de ter vindo para a Grã-Bretanha quando a revista Sunday Times era nova e inovadora", diz Arnold.
"Tive uma vida muito agitada, porém charmosa e compensadora e viajei pelo mundo em busca de fotografias para expressar o nosso tempo."

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