São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 1996
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Lição para a fama de 'favoritos'

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Neste caso, é irrelevante saber que caminho tomamos na Olimpíada, mesmo porque escrevo antes do jogo contra a Hungria.
É que a derrota diante do Japão haverá de ficar ali congelada no espaço e no tempo como um emblema a ser exibido sempre que entrarmos em campo com fama de favoritos. É verdade que nossa história está repleta de "Japões" que se apagaram da nossa memória.
Além do mais, não acho que a derrota tenha se dado por excesso de confiança, máscara ou salto alto dos nossos rapazes. Foi mais o resultado de uma fatal combinação de fatores, começando pela escalação de Sávio e terminando com a jogada do gol japonês.
Tudo conspirava contra a escalação de Sávio, muito antes de o juiz dar início à partida.
A começar pelo fato de que era o único jogador que não se encontrava no mesmo nível de preparo físico dos demais. Além disso, sofria fortes pressões emocionais pela sombra crescente de Ronaldinho.
Por fim, seria uma arma mortífera para o segundo tempo, quando, das duas uma, ou estaríamos vencendo e deveríamos explorar os contragolpes, ou estaríamos debruçados sobre o inimigo, tentando cavar um golzinho salvador.
Nos dois casos Sávio se ajustaria. No primeiro, pela sua velocidade; no segundo, jogando aberto pela esquerda, com três atacantes (Bebeto na direita e Ronaldinho no meio). Mas nunca de saída, quando o peso da responsabilidade e o despreparo físico apontavam para ele como o bode de plantão.
Outro fator: a dupla de volantes Flávio Conceição e Amaral. Seria ótima se não tivesse de sair pela intermediária inimiga distribuindo o jogo, o que é inevitável quando o adversário está fechado lá atrás.
Isso, somado à indigência mental que se abateu sobre Juninho e Rivaldo, os organizadores do ataque, resultou no alto índice de passes errados, o vilão da história.
Eis por que, durante todo o tempo de preparação, implorei aqui para que Zagallo fizesse um único teste com André no lugar de um dos dois. E por quê? Porque André sabe passar a bola com muito mais requinte que nossos dois volantes até então titulares. Em vão.
Além disso, temos o gol japonês como um sardônico sorriso do destino a sugerir que, afinal, era Parreira quem estava certo em 94 ao consagrar o princípio de que vale tudo, até o antifutebol, menos um contragolpe. Quer desgraça maior?
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Diante da reportagem dos nossos enviados especiais a Miami, Mário Magalhães e Marcelo Damato, retiro tudo que disse no domingo a respeito do nosso sistema de espionagem. Menos o complemento.
"Em todo o caso, é bom ficar de olho nesses olhinhos puxados, que correm feito o diabo e que possuem uma disciplina tática, atávica, capaz de operar milagres. Ainda mais nesse calor abafado de Miami. Isso pode virar um inferno."
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Medalha de ouro para Álvaro Paes Filho, o Alvinho da Bandeirantes, que parece ser o único que entende do que fala, quando se trata de outros esportes. As narrações das lutas de judô, por exemplo, na Sportv têm sido tão dolorosas quanto os golpes dos lutadores.
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Ah, sim, e também ao Wilson Baldini Jr. no boxe da ESPN Brasil. A propósito, nosso boxe, sempre o nosso patinho feio nas Olimpíadas, sem alarde, vai bem até agora.
Na esteira de três glórias passadas: Ralph Zumbano, que Los Angeles, em 48, chamou de A Maravilha Brasileira; seu ilustríssimo sobrinho, Eder Jofre, e o medalha de bronze Servilinho de Oliveira, que um descolamento de retina impediu de ser campeão do mundo.

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