São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 1996
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Poetas CAUBÓIS

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Montana é o único lugar onde se pode encontrar um caubói", diz Darrel Schweitzer, um veterinário que passou sua juventude em fazendas do Meio-Oeste americano. Para honrar a herança de seus avós, ele é um poeta caubói.
Schweitzer, falando por telefone de sua casa em Grand Junction, no Estado de Colorado (com um sotaque que lembra uma caricatura da fala dos interioranos da América), diz que faz parte de uma "nação de 75 mil".
São americanos que escrevem versos para celebrar a liberdade, o individualismo, bois, laços e cavalos. E que se reúnem mensalmente em encontros e concursos de poesia por Nevada, Texas, Arizona, Idaho ou Minnesota.
Parte de uma verdadeira celebração do "real espírito dos EUA", os poetas caubóis são estudantes, donas-de-casa, profissionais liberais como Schweitzer ou, claro, homens que passaram toda existência com laços na mão, entre montanhas e vacas.
"Eu não sou um caubói, mas por meio da poesia queremos recuperar o espírito de nossos antepassados, das pessoas que desbravaram o país", fala Schweitzer, procurando marcar a distância que separa "a sua América" dos grandes centros urbanos, como Nova York e Los Angeles.
Mas junto a ele estão também Ron Brinegar, Sherry G. White ("rifles semi-automáticos tomaram o lugar da velha 12") e Mary Howsare. Pessoas desconhecidas, mas que querem manter em versos rimados uma imagem -uma forte imagem- do país em que vivem.
Poucos poetas caubóis escrevem livros, preferindo o amadorismo ou mesmo o anonimato. O grande show acontece em seus encontros.
Pessoas sobem em um palco, muitas delas usando esporas, chapéus e coletes de couro, e recitam seus poemas para um público animado com as imagens de pradarias e tiroteios.
Ao contrário de um fã de música country, um poeta caubói não se aproxima do Velho Oeste por gosto ou moda. Procuram recuperar uma tradição da poesia oral, declamada, na história americana.
Um movimento que foi iniciado há 12 anos, se tornando dos destaques do documentário "United States of Poetry", uma radiografia da história da poesia dos EUA, exibido no ano passado nas TVs educativas de todo o país.
Into the Wild Em março deste ano um livro-reportagem, escrito pelo jornalista Jon Krakauer, disputava os primeiros lugares entre as obras de não-ficção mais vendidas.
"Into the Wild" (algo como "dentro do lugar selvagem") conta a história do estudante Christopher Johnson, que, após doar todo seu dinheiro (US$ 25 mil) para a caridade e queimar sua carteira, caminhou em direção às regiões desertas do Alasca.
O corpo foi encontrado quatro meses depois, em estado de decomposição. O que motivou a atitude de Christopher Johnson foi o desejo de levar "uma vida selvagem, na verdadeira América".
Mas, se há o fato, para representar o desejo dos americanos por seu passado, há também a ficção.
Um público maior se interessa agora por Jim Harrison, Richard Ford, Thomas McGuane ou Cormac McCarthy, os romancistas que têm em seus temas a cultura do Oeste.
Ao mesmo tempo, o cineasta Michael Cimino lança seu "Sunchaser", sobre o ajuste de contas de um homem com seu passado pelos desertos montanhosos. A América aspira aos bons e velhos dias.

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