São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 1996
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I Solisti confirmam retorno ao classicismo

WILLIAM LI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Apresentou-se com grande sucesso no último sábado, no teatro Sérgio Cardoso, o conjunto I Solisti Italiani, como parte da programação do Festival de Inverno de Campos do Jordão em São Paulo.
I Solisti Italiani, que tocam sem regente, é uma orquestra excepcional: afinada, coesa e com uma sonoridade límpida e transparente. Trata-se sem dúvida de orquestra de virtuoses com técnica e sonoridade excepcionais.
O conjunto, apesar de especializado na música barroca, apresentou obras do romantismo, do romantismo tardio e principalmente do neoclassicismo do século 20.
O concerto começou com a "Serenata para Arcos", de Ugo Wolf, compositor do romantismo tardio, mas que nesta peça retoma certos padrões do classicismo. Em seguida, foi executado o "Concerto para Violão e Cordas" do compositor contemporâneo espanhol Antonio Abril, com Ernesto Bitetti como solista.
Foi uma dupla revelação. O concerto, francamente tonal e neoclássico, comprova a tendência de retorno ao tonalismo e a adesão dos compositores contemporâneos ao neoclassicismo, após tantas experiências feitas desde o dodecafonismo.
Bitetti interpretou o concerto com sutileza e sensibilidade, revelando uma técnica prodigiosa e um "cantabile" excepcional. Muito aplaudido pelo público, deu de bis o adagio de um concerto de Vivaldi.
Em seguida, e para mostrar a afinidade da tendência contemporânea com o classicismo, foi executada a virtuosística "Sonata nº 3 em Dó Maior", de Rossini, que, se não pode ser chamada rigorosamente de clássica, está na transição para o romantismo. Sua execução do quarto movimento fez o público perder o fôlego.
A seguir, dois compositores que se dedicaram à música para cinema: Morricone e Nino Rota. De Morricone tivemos os "Exercícios para Dez Arcos", que começa em uníssono com um tema de "La Traviata", de Verdi, e evolui como um vespeiro cutucado.
O efeito é impressionante, manter a coesão em uma partitura dessas. O concerto de Nino Rota lembra um pouco trilhas sonoras de filmes, mas aqui sua pretensão é fazer música erudita, portanto ele é muito mais sóbrio.
Como homenagem a um dos maiores neoclássicos do século, o concerto terminou com as "Danças Romenas", de Bela Bartók. Aplaudido de pé, o conjunto deu dois bis: uma versão desconcertante do terceiro movimento do "Divertimento KV 446", de Mozart, e a "Pizzicato Polca", de Strauss.

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