São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 1996
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Pacino muda de lado em 'Fogo contra Fogo'

MARIE COLMANT; EDOUARD WAINTROP
DO "LIBÉRATION"

O olhar de Al Pacino é o mesmo de sempre: incendiário, atormentado, perdido, profundo, como nas lembranças que temos de "Scarface". Sem falar na voz: rouca como a voz da manhã seguinte a uma noite passada em claro, grave e rachada, doce e baixa como a de Marlon Brando. Al Pacino não hesita em tomar algum tempo para responder a cada pergunta.
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Pergunta - Em "Fogo contra Fogo", é a primeira vez que você aparece como policial, toma conta da cena e de seu personagem em uma série de gestos rígidos. O que você procura transmitir desse modo?
Resposta - Procuro ocupar o espaço. Há muita coisa acontecendo à minha volta e muitas pessoas nessa cena. Esse policial é um dos dois personagens principais do filme. Assim, quero mostrar que ele é um sujeito cheio de paixão, à vontade em seu trabalho, capaz de avaliar uma situação rapidamente.
Pergunta - A experiência que você herdou do Actor's Studio ainda lhe é útil?
Resposta - A palavra "herança" é a palavra exata para descrever o que nos foi transmitido, sem que tenhamos consciência disso, pelo menos no início. O que hoje nos resta é uma forma de comunicar que é o nosso estilo. Acho que a televisão, as novas abordagens de improvisação, mudaram o jogo dos atores. O cinema de hoje se presta perfeitamente ao método do Actor's Studio. É por isso que ele exerceu tanta influência.
Pergunta - Quando você aborda um papel, você sempre pensa nas aulas de Strasberg?
Resposta - Não. Acho que o método se reveste de múltiplas facetas. Seria estupidez não ter consciência de tudo que te interessa ou que pode lhe ser útil. E existem elementos que podem ser úteis a um ator e não a outro.
Pergunta - Shakespeare te ajudou a representar o impasse de De Palma em "Julgamento Final"?
Resposta - Acho que sim. Um dia ouvi falar que Carlito, no filme de Brian de Palma, era uma personagem de Ibsen que teria recebido uma injeção de modernidade.
Mesmo se minha maneira de abordar o personagem é muito realista, o teatro me ajuda muito. O teatro acrescenta grandeza. Mergulhar no mundo do teatro supõe que a gente complete o círculo todo e que explore todos os níveis. Eu recomendo a todos os atores a experiência do teatro, para que meçam suas forças com um texto que muitas vezes possui dimensões superiores.
Pergunta - Você acha que o cinema é pobre em matéria de texto?
Resposta - Não, não é exatamente isso que quero dizer. No caso do cinema, escreve-se para um número maior de espectadores. A coisa precisa ser suficientemente contemporânea para que o espectador possa se encontrar ali. Eu adoro a primeira dessas coisas. Mas os textos clássicos nos ajudam ainda mais, porque apelam para emoções escondidas.
(MARIE COLMANT e EDOUARD WAINTROP)

Tradução de Clara Allain.

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