São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 1996
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Os velhos jovens

GILBERTO DIMENSTEIN

Um americano de 73 anos tem 30% de chances de morrer nos próximos 48 meses, mas, aos 50 anos, a possibilidade cai para 4% -uma estatística semelhante entre brasileiros de classe média.
A idade é um dos temas centrais da sucessão presidencial americana, na qual Bill Clinton, 50, disputa com Bob Dole, 73, que, em 1991, extraiu um câncer na próstata.
No esforço de desfazer temores e reverter as pesquisas de opinião pública, Dole se submete a testes físicos diante das câmeras, abana seu prontuário médico aos repórteres e revela extraordinária tendência: graças a novos hábitos e remédios, o velho exibe uma saúde de jovem.
O câncer se dissipou, pressão de menino, o coração bate bem; apenas a taxa de colesterol está pouco acima do recomendável, mas, curiosamente, melhor do que a de Clinton.
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À medida que a população vai envelhecendo (e com dinheiro), os laboratórios são estimulados a descobrir maneiras de se viver mais e melhor. É um mercado infinitas vezes maior do que o da Aids.
Bob Dole toma diariamente um coquetel de pílulas que bombardeiam o colesterol, o vilão de doenças cardiovasculares; 85% dos que sofrem ataques do coração exibem taxas altas de colesterol.
Imagine, então, o impacto de uma margarina descoberta na Finlândia, chamada Benecol, com ingredientes extraídos do pinheiro.
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Depois de rigorosos testes publicados pela "New England Journal of Medicine", mais importante publicação médica americana, uma fatia de pão diário com a margarina reduz o colesterol em poucos meses -o risco de ataque cardíaco despenca 30%.
Até agora, segundo a publicação, não há vestígio de efeito colateral.
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Uma das boas e engraçadas histórias sobre saúde na política brasileira foi produzida por Fernando Henrique Cardoso e José Serra -um caso, aliás, a ser estudado por psicólogos.
Quando Fernando Henrique exibia alguma dor, José Serra frequentemente imaginava sentir o mesmo sintoma. Certa vez, a cantora Fafá de Belém deu a FHC um revigorante com ervas da Amazônia, com poderes especiais para homens que beiram os 60 anos.
Vários anos mais jovem e ainda protegido das inexoráveis armadilhas da natureza, Serra quis tomar o mesmo tônico.
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PS - A referência ao caipirismo é de mau gosto, mas FHC tem razão: brasileiros e americanos são, em geral, provincianos, fenômeno de nações continentais. Coloque um mapa na frente de estudantes brasileiros e mande apontar os países da América Latina (nem falo África ou Ásia). Aposto que será o mesmo vexame. Não é à toa que o americano vê em Nova York, exemplo de cosmopolitismo, um quisto urbano.

E-mail GDimen@aol.com
Fax (001-212)873-1045

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