São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 1996
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Lamarca estava deitado ao ser atingido

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-capitão do Exército e guerrilheiro Carlos Lamarca foi morto por sete tiros, e pelo menos quatro deles o atingiram de frente, quando ele estava deitado.
Essa é a principal conclusão da nova perícia feita nos restos mortais de Lamarca, realizada pelos peritos Nelson Massini, da Universidade do Rio de Janeiro, e José Eduardo Reis, do Instituto Médico Legal de Brasília.
Lamarca foi capturado aos 34 anos na Bahia, em setembro de 71. O resultado muda, definitivamente, a versão sobre sua morte, divulgada pelos militares à época: que ele havia sido morto em combate.
O laudo final sobre Lamarca deve ser entregue às 10h de hoje à Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Ele será anexado ao processo em análise pela Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça.
O novo laudo será agrupado ao laudo cadavérico feito em 1971 pela Polícia Federal da Bahia.
Eles servirão de base para que o deputado Nilmário Miranda (PT-MG) apresente, no próximo dia 1º, relatório à comissão pedindo revisão do processo de indenização à família de Lamarca.
Até a última reunião, em junho, 2 dos 7 conselheiros haviam votado contra o pagamento da indenização. Nilmário disse que, com os novos dados, será possível até mesmo a reversão desses votos.
O laudo a ser divulgado hoje confirma a maioria das informações levantadas pela PF em 1971. A maior divergência é quanto ao número de tiros: os novos exames apontaram sete.
Como quatro tiros atingiram ossos, os peritos puderam reconstituir suas trajetórias, indicando que Lamarca estava deitado com a barriga para cima ao ser baleado.
A tese confirma versões de parceiros de Lamarca, que disseram que ele estava dormindo ao ser cercado por militares, liderados pelo atual secretário de Segurança do Rio, general Nilton Cerqueira.
A mandíbula que estava na urna funerária de Lamarca era mesmo dele, embora laudo inicial do IML de Brasília afirmasse o contrário. Os legistas foram informados por um dentista de Lamarca que ele usava prótese na arcada superior e não na inferior, como se pensava.

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