São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 1996
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POR QUE NÃO DESERTO?

ANDRÉ FONTENELLE
DO ENVIADO A ATLANTA

"Que se queden." A frase do velocista cubano Omar Mena -"Que fiquem (nos EUA)"- resume o sentimento expressado pelos cubanos em relação às deserções de três atletas para os Estados Unidos nas últimas semanas.
Os pugilistas Joel Casamayor e Ramón Garbey e o jogador de beisebol Rolando Arrojo, três integrantes da delegação olímpica, aproveitaram a saída de Cuba para desertar. O risco não era ignorado pelas autoridades cubanas.
Mas havia pouco a fazer. O único indício de preocupação foram algumas ausências notadas na convocação da seleção de beisebol -supostamente, jogadores "passíveis de fugir" foram cortados.
Desde que Fidel Castro chegou ao poder em Cuba, em 1959, e transformou o país em uma potência esportiva, essa é uma das maiores sequências de pedidos de asilo.
Uma semana antes dos Jogos, Rolando Arrojo, arremessador titular da seleção cubana de beisebol, fugiu da concentração da equipe em Albany (Geórgia).
Arrojo saiu de madrugada, seduzido pelas propostas do empresário Joe Cubas, um exilado cubano residente em Miami (Flórida, sul dos EUA), que se especializou em atrair atletas de Cuba para os EUA.
No ano passado, ele colaborou na fuga de outro arremessador da seleção cubana, Osvaldo Fernández, durante uma excursão da seleção de beisebol ao Tennessee (sul dos EUA). Hoje, Fernández joga no San Francisco Giants.
"Essa é uma decisão muito pessoal para os rapazes", afirma Cubas. "A tristeza de deixar a família para trás e não saber quando vai revê-la é muito dura. Eu não os pressiono. Se quiserem vir, sabem como me encontrar."
A fuga de Arrojo não alterou a rotina dos 171 atletas cubanos na Vila Olímpica. "Somos livres", diz Jorge Crusellas (atletismo).
A comunidade cubana em Atlanta dá pequenos sinais de estímulo a deserções. No Mambo, um restaurante cubano da cidade, a proprietária pôs um adendo ao cardápio.
Diz: "Todo cidadão é responsável pela segurança de um eventual refugiado político. Se solicitado, você deve isolar e ajudar esta pessoa". Lucy Alvarez, a proprietária, fala que ainda não houve respostas.

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