São Paulo, quinta-feira, 25 de julho de 1996
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Presidente de Burundi se refugia

Embaixada recebe líder

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente de Burundi, Sylvestre Ntibantunganya, refugiou-se na casa do embaixador dos EUA em Bujumbura, o que despertou rumores de um golpe de Estado no país dividido entre tutsis e hutus.
Um funcionário do Departamento de Estado dos EUA disse que Ntibantunganya e a primeira-dama passaram a noite na casa do embaixador Morris Hughes e ainda estão lá. Um funcionário de Burundi disse que a fuga aconteceu "por motivo de segurança".
O Conselho de Segurança da ONU emitiu comunicado, na tarde de ontem, condenando qualquer tentativa de golpe de Estado no país do centro da África. Não há informações confiáveis sobre quem está no poder no país.
O tenente-coronel Longin Minami, porta-voz do Exército, disse que "não há golpe de Estado em preparação ou em curso. O Exército está leal ao presidente".
Ntibantunganya, 40, que pertence à etnia hutu (majoritária) e é considerado um moderado, fora atacado a pedradas por tutsis durante o enterro de mais de 300 pessoas que foram vítimas de um massacre no sábado, em Gitega.
Durante todo o dia, a expectativa em Bujumbura era que Ntibantunganya renunciasse. O partido do premiê Antoine Nduwayo, Unidade para o Progresso Nacional, o principal da oposição, anunciou que retirou seu apoio à coalizão liderada por Ntibantunganya, a quem acusou de "alta traição".
Jean Minani, líder do Frodebu, o partido do presidente, refugiou-se no Quênia e disse que tinha ocorrido um golpe em Burundi.
Vários ministros, inclusive o premiê (que é tutsi), podem deixar o governo por causa dessa decisão.
A coalizão foi criada em 1994, e ajudou a evitar um genocídio como o que ocorreu em Ruanda, onde 500 mil tutsis e hutus moderados foram mortos em dois meses.
O presidente se vê sem apoio tanto dos tutsis quanto dos hutus. Os tutsis (15% da população) dizem que ele não vem fazendo o necessário para proteger a minoria; os hutus (85%) acusam Ntibantunganya de ser excessivamente moderado e fazer muitas concessões. Os dois grupos vivem em constante clima de guerra civil.
Em seguida à fuga de Ntibantunganya, outros funcionários do governo procuraram abrigo em embaixadas. Os principais rumores diziam que o Conselho Nacional para a Defesa da Democracia (CNDD), de extremistas hutus, estaria prestes a tomar o poder.
A situação se tornou mais tensa devido a choques entre o Exército, dominado pelos tutsis, e o grupo rebelde Exército para a Defesa da Democracia, ligado ao CNDD.
O Exército disse que o choque aconteceu depois de um emboscada contra um comboio militar, mas não informou sobre baixas.
A TV do país disse que os soldados que fazem a guarda da emissora foram substituídos durante a noite, o que reforça a tese de golpe.
O papa João Paulo 2º e os EUA pediram o fim da violência entre as duas etnias. "O Burundi continua mergulhado em um abismo de violência, cujas vítimas são os mais fracos", disse o papa.
A França, que mandou tropas para intervir no conflito de Ruanda, disse que, com relação ao Burundi, não fará "nem mais, nem menos" que seus parceiros.

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