São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Legistas não identificam ossadas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA FOLHA SUDESTE

A equipe de legistas argentinos que fez escavações na região do Araguaia à procura de corpos de guerrilheiros desaparecidos não conseguiu identificar nenhum dos quatro corpos exumados.
Apenas um deles tem chance de pertencer a um guerrilheiro. É de um homem, entre 28 e 35 anos, entre 1,75m e 1,85m, branco e com fratura no fêmur feita à bala.
Esses ossos já foram examinados em perícia anterior pelo legista Badan Palhares, da Universidade de Campinas, em 1991.
Segundo os legistas, só se poderá chegar à identidade do morto por meio de exames de DNA, que verificam o código genético.
Seis famílias com características semelhantes à do cadáver encontrado e que têm parentes mortos no Araguaia farão o exame de DNA, na Polícia Civil do Distrito Federal. O resultado sai em 40 dias, aproximadamente.
Outros dois esqueletos, também retirados no cemitério de Xambioá (PA), foram descartados pelos legistas.
Eles pertenciam a homens com mais de 55 anos, enterrados em caixão e sem sinais de trauma ou violência, o que descaracteriza o perfil dos desaparecidos.
A quarta ossada encontrada, na realidade, é de pelo menos duas pessoas. Ela foi retirada de uma vala na reserva indígena Sororó.
Mas a condição de conservação dos ossos -tomados por cupins- impede até mesmo que seja feito o exame de DNA. Segundo os legistas, na cova, foram enterradas pelo menos duas pessoas.
O legista Luis Fondebrider, 33, criticou os métodos da exumação feita por Palhares em 1991. Segundo ele, a forma usada pelo legista para retirar os ossos -que não teria seguido orientações arqueológicas, como preservar o local-, atrapalhou uma possível identificação imediata.
Além disso, os ossos teriam sido colocados num saco plástico e enterrados em cova rasa. Os legistas argentinos acusaram falta de parte do esqueleto.
Badan Palhares negou ontem ter misturado ossos durante escavações. "Como eles podem dizer que eu fiz isso? Baseado em quê?" Segundo ele, já se passaram seis anos das escavações e nesse tempo ossos foram removidos do cemitério inúmeras vezes.
Badan Palhares afirmou que não misturar ossos para enterrar é um dos princípios básicos de um perito. "Estou admirado de saber que pessoas do gabarito possam falar coisas tão infantis, sem argumentos sólidos. Eles podem ter aprendido antropologia, mas não aprenderam nada de ética."

Colaborou a Folha Sudeste

Texto Anterior: 'Gastaram chumbo', diz Bolsonaro
Próximo Texto: Badan e alagoanos discutem laudo hoje
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.