São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 1996
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Saída de Itamar 'alivia' portugueses

JAIR RATTNER
DE LISBOA

A volta ao Brasil do ex-presidente e atual embaixador em Lisboa, Itamar Franco, é motivo de alívio nos meios diplomático e governamental português. A viagem de volta está marcada para a madrugada de sábado, 27 de julho.
Apesar de passar apenas 13 meses em Portugal, Itamar conseguiu desagradar o governo português.
Segundo diplomatas portugueses, se a atitude de Itamar fosse encarada como a posição do Brasil em relação a Portugal, as relações entre os dois países estariam numa séria crise.
Ao deixar Portugal, o ex-presidente vai ficar até sem a condecoração que todos os embaixadores no país recebem.
A explicação oficial é que Itamar passou pouco tempo em Portugal, mas o comentário dos responsáveis pelas condecorações são de que ele dificultou a cooperação entre os dois países. Itamar teve sua condecoração negada na mesma semana em que até o metrô de Lisboa recebeu uma ordem de mérito.
Durante o período em que esteve como embaixador em Lisboa, Itamar teve nas mãos duas questões principais: as negociações para a formação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e o problema dos dentistas e outros profissionais com brasileiros que não obtiveram o reconhecimento dos diplomas em Portugal.
Assuntos internos
Itamar faltou na maior parte das reuniões que prepararam a formação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, constituída na semana passada.
Ele é acusado pelos portugueses de só ter ido às reuniões para defender o cargo de secretário-executivo da comunidade para o ex-embaixador em Lisboa José Aparecido de Oliveira.
Os portugueses também acusam Itamar de ingerência em assuntos internos de Portugal. Para tentar resolver o problema dos dentistas brasileiros, ele chegou a propor uma lei ao governo português.
A proposta de lei era baseada num parecer do líder da oposição -uma garantia de que o governo não ia levar em conta a proposta.
Na representação do Brasil, tornou-se conhecido pelas ausências. Faltou em cerimônias como a despedida de Soares da Presidência, os cumprimentos de Ano-Novo ao presidente e até na data nacional da Argentina.
As ausências do ex-presidente chegaram a virar piada nos meios diplomáticos em Portugal. Entre as várias anedotas, falava-se que "antes o Brasil tinha o Aparecido, agora tem o desaparecido", referência ao ex-embaixador José Aparecido de Oliveira.
A cultura é a única área em que o embaixador obteve comentários positivos. Durante o período em que esteve em Lisboa, foi assinado um convênio para a microfilmagem de documentos relativos ao período colonial em Minas Gerais.
Além disso, a Casa do Brasil -associação de imigrantes brasileiros- recebeu verbas da embaixada para a constituição de um centro de documentação.
Entre diplomatas brasileiros, as críticas são de que Itamar usou a embaixada como se fosse seu espaço particular.
Além dos cinco auxiliares a que tem direito, pagos pelo governo brasileiro -a secretária Ruth Hargreaves, o médico Geraldo Farias, o jurista Alexandre Dupeyrat, o comandante Antônio Carvalho e o mordomo-, ele colocou uma funcionária da embaixada para responder as cerca de 50 cartas pessoais que recebia diariamente de admiradores do Brasil.
A utilização do pessoal da embaixada também incluiu um diplomata, que tinha como função explicar a Itamar as novidades que surgiam no mundo: do funcionamento da Internet às descobertas no caminho da cura da Aids.

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