São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 1996
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Droga motivou crimes, diz garoto

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Adolescentes que já cometeram algum tipo de infração disseram ter roubado e matado para conseguirem dinheiro para comprar drogas.
A.C., 17, contou ter iniciado sua "carreira no crime" no morro dona Marta (zona sul do Rio) quando tinha 11 anos.
"Eu comecei fazendo 'mandado' (compra de comida e lanches para os traficantes) e, quando completei 14 anos, fui promovido a 'fogueteiro' (vigia que solta fogos de artifício para avisar quando a polícia está se aproximando da favela)", afirmou o garoto.
Neste período ele usava maconha e "farinha" (cocaína). "A gente era mantido acordado durante a madrugada para vigiar à base de três gramas de coca por período (das 18h às 7h)."
Foi no "cargo" de vigia do morro que A.C. cometeu seu único homicídio. "Matei um policial em uma operação da PM no morro." O rapaz foi apreendido e internado por dois anos.
Quando ganhou novamente a liberdade decidiu ir a São Paulo. Hoje, pai de uma criança de 4 meses, ele está fazendo um curso de computação no SOS Criança. "Toda minha infância foi ligada ao crime porque para poder comprar droga", disse ele.
Crack aos 15 anos
A garota L.D.N, 16, começou a se drogar usando crack aos 15 anos. "Eu e mais duas meninas passávamos as tardes 'puxando' (roubando) relógios das mulheres na praça da Sé (centro de São Paulo), contou a menina.
À época, a garota disse que comprava uma pedra de crack por R$ 15,00. L.D.N. fugiu de casa aos 12 anos. "Eu morava com a minha mãe que não me queria, e meu pai que me batia. O jeito foi ir embora", afirmou ela, que morava com os pais em Embu. Hoje ela mora em um abrigo para adolescentes e faz curso de dança no SOS Criança.
Coquetel de drogas
Outro adolescente, D.W., 17, começou a roubar aos 9 anos para comprar maconha em Uberlândia (MG), cidade onde morava com a família.
"Fui influenciado pelo meu primo. A gente misturava maconha, cocaína em um chá de cogumelos. Depois de beber esse coquetel, íamos jogar bola e bagunçar. Quando os 'homens' (polícia) parava a gente, não desconfiavam que estávamos carregando uma "bomba" de drogas."
D.W. disse ter abandonado as drogas há dois anos. "Hoje trabalho como educador na recreação de crianças carentes", afirmou ele.

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