São Paulo, sábado, 27 de julho de 1996
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Prostituição é 'sadia' em 'Hustler White'

ADRIANE GRAU
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

Os garotos de frete, como os chamaria Caetano Veloso, há muito tempo transformaram as calçadas do Santa Mônica Boulevard (Los Angeles) em um território fervilhante.
"Hustlers", "Johns", ou simplesmente michês criaram uma cultura própria no local há mais de 15 anos.
Localizados no caminho para os estúdios de Hollywood, seria fácil imaginar que um dia seriam retratados num filme.
Mas só a curiosidade do diretor canadense Bruce La Bruce e a experiência do fotógrafo Rick Castro para transformar parcos US$ 50 mil em "Hustler White", filme que será exibido hoje, às 23h30, no Top Cine Catete, dentro da programação do Rio Cine Festival.
O filme, que lotou a platéia de 1.500 lugares do Castro Theatre em San Francisco durante o Lesbian & Gay Film Festival deste ano, foi feito em dez dias, com seis horas de negativo e nove meses na ilha de edição.
O papel principal, do michê Monty, é de Tony Ward. Sua estréia como ator coroa uma carreira de modelo que deslanchou depois que uma foto de sua bunda cobriu a capa da revista gay "In Touch", nos anos 80.
Ward também participou dos videoclipes "Justify my Love" e "Cherish", ao lado da então namorada Madonna. "Ela é uma mulher muito interessante, ficamos juntos por seis meses, e claro que cada um seguiu seu caminho", afirma.
Mundo real
A vida dos garotos de programa chamou a atenção de Rick Castro há dez anos. "Moro entre o Santa Mônica, ponto de michês, e Sunset, que é onde estão as prostitutas", conta ele.
Ele aproveitou a proximidade para documentar o vai-e-vem da prostituição masculina local. Quando conheceu Bruce La Bruce em um festival de cinema em 1991, surgiu a parceria para o longa.
"O movimento de garotos pelo Boulevard era mais que perfeito para um filme, e começamos a passar de carro captando imagens em vídeo", afirma Bruce.
Não demorou para escreverem juntos um roteiro. "Quando fizemos 'Hustler White', em junho de 1995, foi o verão do amor no local", anima-se Castro. "Coisas aconteciam naquelas calçadas."
Segundo Castro, a idéia foi mostrar uma fantasia sobre e para garotos de programa. Em resumo, "nada de mulheres, drogas, drag-queens ou Aids".
Para mostrar o que rola com os rapazes da vida, Bruce e Castro deram voz aos próprios. Estrelas da cena pornô local fazem parte do elenco. É o caso de Vaginal Davis, drag-queen que aceitou se transformar em Buster Boote, seu lado masculino.
Também marcam presença Kevin Kramer, estrela de filmes gay pornográficos e ativista na luta contra a Aids, além de Ron Athey, artista performático que é um ídolo para a comunidade gay norte-americana.

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