São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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Os focos de descontentamento militar

- Lamarca
. Depoimentos de duas testemunhas e documentos obtidos pela Folha contradizem a versão oficial sobre a morte do guerrilheiro Carlos Lamarca em 1971, na Bahia. O relatório diz que Lamarca estava deitado junto a uma árvore, tentou correr e "foi abatido 15 metros à frente, caindo ao solo"

. Porém, o carcereiro de Brotas de Macaúbas, que participou da operação em 1971, disse à Folha que o corpo de Lamarca estava aos pés da árvore: "Eu recolhi o corpo lá, junto da baraúna (árvore)". O delegado da cidade, que também atuou no cerco, reforçou o depoimento

. "Vi muitas marcas de tiro na baraúna e em uma pedra, onde Lamarca tinha repousado a cabeça para dormir", declarou o delegado. Além disso, nova perícia nos restos de Lamarca mostra que ele foi morto foi morto por sete tiros, dos quais quatro o atingiram de frente, quando ele estava deitado

. O resultado do laudo muda a versão sobre sua morte, divulgada pelos militares à época: que ele havia sido morto em combate. A principal resistência à reabertura do caso é a revelação de que Lamarca estava dormindo quando foi cercado pelos soldados liderados pelo general Nilton Cerqueira

- Marighella
. O laudo sobre a morte do líder guerrilheiro Carlos Marighella, da ALN (Ação Libertadora Nacional), contém indícios de que ele morreu na rua, contrariando a versão oficial, de que ele foi morto dentro do carro. Segundo Massini, Marighella recebeu tiros a curta distância, sem ter reagido aos policiais

. O próprio general Oswaldo Pereira Gomes, representante dos militares na comissão de Desaparecidos, reconhece que não houve reação: "Normalmente, a polícia tem de propor ao criminoso que ele se renda. Mas o que havia era uma guerra e, em uma guerra, não se espera para eliminar o inimigo"

. Segundo a versão oficial, Marighella estaria acompanhado de outra pessoa, que teria atirado quando ele recebeu ordem de prisão: "Fora o Marighella, não vi ninguém", disse um dos policiais que participou da operação. Ele confirma que o guerrilheiro não reagiu: "Numa guerra você tem de atirar primeiro"

. A perícia oficial também confirma que Marighella não chegou a disparar um só tiro. A operação para capturá-lo envolveu 29 policiais. A rua onde ele foi morto foi praticamente cercada por 7 carros. Por isso, familiares de desaparecidos defendem a concessão de uma indenização aos seus parentes

- Os membros da Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos Políticos
(Lei 9.140/95)
Miguel Reale Jr., advogado, presidente da comissão
João Grandino, representante do Ministério das Relações Exteriores
General Oswaldo Pereira Gomes, representante das Forças Armadas
Paulo Gonet, representante do Ministério Público
Luís Francisco Carvalho Filho, advogado criminalista (*)
Suzana Lisboa, representante da Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos
Deputado Nilmário Miranda, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara

(*) Substituiu Eunice Paiva, que deixou a comissão após ser criticada por votar contra a concessão de indenizações a duas famílias de desaparecidos

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