São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
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"Reprimido vivo" faz pedido

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Comissão de Desaparecidos Políticos recebeu pedido de pelo menos sete sobreviventes que querem indenização do governo.
Os chamados "reprimidos vivos" sobreviveram à tortura física ou psicológica de que foram vítimas em razão de sua orientação ideológica.
Para não tornar públicos os dramas pessoais, a comissão não divulga nomes ou dados que possam identificá-los.
Sabe-se, no entanto, que pelo menos um deles -do Amazonas- já nem vivo está mais. Cometeu suicídio depois de enviar o pedido à comissão.
Em geral, o destinatário do pedido é o presidente da República. Em quase todas as solicitações, o que se quer é "indenização por danos morais e materiais", com base em relatos de torturas físicas e psicológicas praticadas pelas forças de segurança do regime militar (1964-1985).
Uma mulher que mora no Paraná, por exemplo, se diz mãe de quatro filhos e relata que o marido, um ex-preso político, está desempregado, tem problemas mentais e a trata mal.
"Nessa condição, preferia que o meu marido tivesse morrido para poder receber a indenização e, assim, poder criar, com dignidade, os filhos que tive com ele", escreveu a paranaense.
O caso está sendo analisado pela consultoria jurídica do Ministério da Justiça. Os demais estão agrupados entre centenas de correspondências que a comissão tem recebido desde que foi criada.
A comissão identificou ainda uma série de "reprimidos vivos" que, por falta de orientação ou mesmo de instrução, não formalizaram queixa. É o caso de muitos moradores da região onde houve a guerrilha do Araguaia.
O movimento armado promovido pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil) ocorreu entre 1972 e 1974 na região da divisa entre os Estados do Pará e de Tocantins.
Quando técnicos da comissão ou jornalistas viajam para a área, esses moradores relatam -e, muitas vezes, mostram no corpo- histórias de torturas ou danos sofridos por estarem morando na região quando houve a guerrilha.
"Alguns deles pensaram até que, por nos darem informações sobre a localização de corpos, iriam receber dinheiro do governo", conta Cristiano Morini, assessor da comissão que viajou recentemente ao local.

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