São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996 |
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Jacy, 17, pretende ter casa e pagar o colégio dos filhos
LUCIA MARTINS
Ela vai prestar vestibular este ano para biomedicina e tem vontade de começar a trabalhar o mais rápido possível. "Quero ser idependente, poder pagar as minhas próprias dívidas", afirma. Jacy hoje "se sustenta" com R$ 20,00 por semana que ganha de mesada e às vezes aumenta o orçamento trabalhando como garçonete em festas. Filha de pais que participaram da resistência estudantil ao regime militar no final dos anos 60, ela foi ensinada a dar valor ao coletivo e ser solidária. "Minha mãe vive falando que sou egoísta. Quero poder fazer alguma coisa pelos outros, mas primeiro preciso estar bem, com minha vida resolvida." A mãe, Suely, 45, se surpreende quando ouve sua filha caçula falar de suas aspirações. "Quando tinha a idade dela, queria mudar o mundo. Não estava nem aí para a minha carreira. O que importava era o momento que estava vivendo", diz ela, que é economista do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) da USP, filiada ao PT e que no início dos anos 70 ficou presa durante dois meses. "Nunca conseguiram provar nada contra mim. Aí, me soltaram", conta Suely. "Não consigo imaginar isso acontecendo hoje comigo ou com as minhas amigas", diz Jacy. * Trabalho Jacy - É a coisa mais importante para mim. Quero conseguir um lugar no mercado de trabalho. Suely - Não me preocupava com isso. Para mim, isso seria decorrência do que eu estava fazendo. Os meus projetos coletivos eram mais importantes. Namoro Jacy - Namoro há quatro anos (2º namorado) e acho que é sério. Suely - Na idade dela, com certeza já tinha tido mais de dois namorados (risos). Casamento Jacy - Quero casar ou pelo menos morar junto com alguém. Também quero ter filhos. Claro que isso não vai ser agora. Suely - Quando casei, estava grávida do meu 2º filho. Relação com os pais Jacy - Sei que sempre que quiser conversar com minha mãe vou poder. Minha relação com ela é muito boa. Sempre estou em casa e perto deles. Suely - Saí de casa muito cedo para viver clandestina. No auge da militância, eu não tinha nem relação com a minha família. Drogas, álcool etc. Jacy - Não gosto de drogas e não fumo. Bebo um pouco de cerveja. Suely - Eu também não gostava de beber nem de drogas, mas era uma exceção. Morar em outro país Jacy - Tenho planos de estudar e até morar um tempo no exterior. Suely - A 1ª vez que ela me falou sobre isso, fiquei brava, mas aceitei. Na minha adolescência, pensar em sair do país era heresia. Texto Anterior: Camila, 15, quer casar na igreja Próximo Texto: Teba Treviño (Espanha); Peter Bürger (Áustria); Elvis Ekekang (Gabão); Ria Hatanaka (Japão); Utsugi Ishida (Japão); Akinori Kohyama (Japão); Hatif al-Rarek (Líbano); Michael Donoham (Irlanda Norte) Índice |
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